Dor como Segregadora Social

Dor como Segregadora Social

O mundo parou, sim, literalmente todos fomos forçados a parar de alguma maneira. Parar de trabalhar porque férias coletivas foram dadas, ou porque perdemos o emprego. Em outra hipótese, o trabalho Home Office se tronou uma alternativa, mas que o mundo parou e suas rotinas também por causa da pandemia da COVID-19, é sabido de todos. Com a pandemia a dor apareceu como consequência. O que é a dor? Como podemos vencê-la? São questões que sempre acompanharão o ser humano em toda a sua existência, logo, é inevitável que a dor seja sentida, mas isto não implica que a dor não possa ser tratada. Neste artigo abordaremos a dor como uma segregadora social, porque ninguém quer ficar ao lado de uma pessoa que vive se queixando de uma  dor; uma dor de perda ou de fracasso, bem como a não compreensão da saída dos filhos de casa, que no adulto pai ou mãe, gera, em alguns casos, a síndrome do ninho vazio, que é um dor emocional por pensar que a maturidade dos filhos é um tipo de rejeição a todo o trabalho materno ou paterno de investimento que foi feito e com isso, a dor aparece ligada a suposta perda dos filhos.

A Psicopedagogia Institucional pode atuar como uma das colaboradoras no processo de ajuda ao adulto que está sofrendo uma das dores anteriormente mencionadas. Assim, a intervenção da psicopedagogia com ações terapêuticas seria bem significativos para também demonstrar sua importância como uma disciplina e como uma parte da ciência que visa o entendimento do ser humano e como ajudá-lo. Outra vez, a Psicopedagogia pode quebrar barreiras e descobrir como amparar pessoas que estão passando por essas dores, como as da perda, da frustação pessoal e da terrível sensação de fracasso pelo caso fortuito da pandemia e ao mesmo tempo negligência de muitos.

A Dor como Segregadora Social

Ninguém gosta de ser excluído, de nada ou por alguém, mas isto também acontece nas relações sociais, pois, um doente muitas das vezes não sabe que está doente emocionalmente;  Só toma consciência que necessita de ajuda quando, em algum momento social, sofre a segregação por causa de seu comportamento de desgosto, de queixa, de frustração consigo mesmo e isto é exteriorizado em palavras, em desleixo na aparência física, que retrata a confusão emocional que está padecendo. Nos encontros e eventos sociais, as dores emocionais são mais suscetíveis de serem vistas porque o ambiente é propício para externar, mesmo que inconscientemente como um escapismo[1] para o sufocamento das emoções.

Mas como a dor é segregante? É no ponto de que o emocional é abalado sem que haja doença preexistente, em consequência da pandemia, ou até outras questões da própria vida diária. A Psicopedagogia, como assevera E. Fagali sobre o processo de cura: “o processo de cura, expresso  ‘curando’ (do latim: curare) se associa ao ‘ter cuidado com’, vigiar, livrar da doença, um sentido dinâmico de estar atento, de acolher e mobilizar, em busca de um movimento libertador da condição de estar doente”.

Então, a dor é um fenômeno inevitável e que acompanha o ser humano em toda a sua existência. Para José A. da Silva e Nilton P. Ribeiro-Filho a sensação de dor é uma parte fundamental para a própria sobrevivência humana e que serve como um indicador de que tem algo de errado com o organismo, além disso, a dor pode ser emocional, e também tornar-se física – são as denominadas doenças psicossomática. Mas o nosso objetivo neste artigo é contribuir para que os adultos, com pelo menos três tipos de dores, possam ser ajudados: os que sofrem com a síndrome do ninho vazio, os que, por causa da pandemia, perderam algum ente querido ou até mesmo o seu sustento laboral, pela perda do emprego, e ainda aos que, por causa da COVID-19 sentem-se fracassados pela conjuntura socioeconômica do país.

A Dor da Perda e do Fracasso

Já para Betty Carter e Monica McGoldrick a sensação de frustração por terminar um ciclo normal da vida que é a autonomia e independência dos filhos, é vista por alguns como uma sensação de fracasso pela ausência dos filhos. É uma fase marcada pela mudança de casa e das relações sociais e familiares. Portanto, a dor do “ninho vazio” com a ajuda de um profissional como o psicopedagogo que na área institucional atua colaborando para as mudanças necessárias no ambiente e nas relações intrapessoais, e nas interpessoais. Segundo Brito da Luz e Brito da Luz, neste período o casal pode se reencontrar para um reconstrução da vida de casal, já que muitas das vezes o foco deles eram os filhos e a supressão das necessidades deles enquanto pequenos, mas após crescerem e obterem  autonomia, saem de casa para formar um novo núcleo familiar, como uma etapa normal da vida de cada um; isto em alguns casais, ou em um dos cônjuges gera a sensação de perda, de fracasso ou de frustração

Segundo Naiara P. Donida e Sandro R. Steffens a própria insatisfação com o casamento que, tinha muitos percalços na vida a dois, e com a canalização da atenção e das energias nos filhos, os quais, saem de casa para viverem as suas respectivas vidas e decisões, seria um dos possíveis estopins para essa síndrome do ninho vazio. Contudo, se um casamento é estável, a partida dos filhos é a oportunidade de uma dedicação entre os cônjuges, uma segunda lua de mel, e renovação de um ciclo da vida. A forma pela qual enfrentamos as perdas seja de alguém que amamos, de um emprego, ou a sensação de fracasso, de que nada funciona em nossa vida, fará a diferença em nosso futuro.  Como essas sensações são tóxicas, se não forem bem administradas resultam em problemas para quem se aprisiona a elas.

A Empatia e o Vínculo Afetivo como Ação Psicopedagoga

A empatia é saber que mesmo que o outro possa estar errado ou enfrentando um problema emocional, se colocar no lugar dessa pessoa, sentindo as dores que esta sente, para que ao invés de afastá-la por causa de suas queixas, buscar, por intermédio desta empatia, a colaboração e o apoio para que esta pessoa seja conscientizada e entenda que precisa de ajuda de um profissional da área de saúde ou de uma equipe multidisciplinar para atendimento. O papel da psicopedagogia institucional é enfatizar as mudanças no ambiente de trabalho que sejam positivas e assertivas para com aqueles que estão com determinados problemas, podendo ser uma fonte de mediação no processo de autoconhecimento e conscientização.  No entanto, às vezes, não é uma tarefa de um profissional só, mas de uma equipe especializada.

Um fato é certo, a empatia pela dor alheia e o estabelecimento de um vínculo emocional de ajuda e colaboração, em que os que sofrem as dores, quaisquer que sejam, possam ser ajudados efetivamente. sendo a solução a menos custosa para a instituição, e para o indivíduo. Para Roman Krznaric empatia é se colocar na posição do outro, mediante a imaginação, isto para tentar presenciar seus sentimentos.  Já para Emerald Spphire empatia é ver o oculto da personalidade do outro pela percepção das suas emoções.

De acordo com Carl Roger nos tempos de Freud era limitada aos sentimentos, quase que uma obra de arte pela consideração positiva. Toda a percepção de empatia está em um convívio social melhor. Para os diferentes significados que as intervenções terapêuticas relacionais que a psicopedagoga pode fazer é de importância como trabalho colaborativo e de afetividade. Segundo Pichon-Rivière na Teoria do Vínculo, que gera uma adesão ou preferência por causa de atitudes ou pessoas em quem confiamos ou admiramos por motivos diversos.

Considerações Finais

A dor é uma realidade inegável para todos nós, logo devemos aprender a lidar com as perdas, a lidar com os imprevistos da vida. O psicopedagogo pode, por sua formação, atuar proativamente na empresa para que os colaboradores possam encontrar um alívio ou até mesmo a solução da dor que vivenciam. É claro que, se outro profissional da área da saúde for necessário, sua incumbência é de orientar e dar os suportes que são precisos para que o tratamento aconteça. A dor é universal, não vê raça, credo, ou posição social do indivíduo, atingindo, de uma forma ou de outra, todos os humanos que estão vivos. Assim, é preciso aprender a lidar com perdas e com o fracasso, para que se cresça e alcance uma maturidade de vida, com a aprendizagem decorrente da experiência negativa que traz resultados positivos.

Desta maneira, o psicopedagogo pode romper com paradigmas da profissão e ser mais atuante nas empresas. Vale lembrar que além de ser um profissional, também é um ser humano que pode passar pelos mesmos erros, enganos, fracassos e acertos que a pessoa a qual ajuda a se recuperar das dores emocionais.

Notas:

Escapismo são formas de escape de um problema desde a rejeição de sua existência, como a busca de caminhos ou meios para amenizá-lo, que pode ser na bebida ou outra atividade. Até mesmo fugir para um mundo fantasioso. Ver: ESCAPISMO. Disponível em:<https://www.resilienciamag.com/escapismo-a-arte-de-criar-de-criar-problemas–fugundo-dos-problemas/amp/> Acesso dia 25/09/2020, às 09:30 hs.

FAGALI, Eloisa Quadros. Encontros entre Arteterapia e psicopedagogia: a relação dialógica terapeuta e cliente, educador e aprendiz. In: CIORNAI, S., Percursos em Arteterapia. São Paulo: Summus, 2005, pp.27-30.

SILVA, José Aparecido da; RIBEIRO-FILHO, Nilton Pinto. A Dor como um Problema Psicofísico. Rev Dor, São Paulo, 2011, abr-jun;12(2):p.139.

Psicossomática é a demonstração da doença emocional de forma que afeta o corpo com outros tipos de doenças ou mal-estares provocados pelo emocional como sinal de pedido de socorro do corpo. Ver.:< DOENÇAS PSICOSSOMÁTICAS. Disponível em:<https://psiquiatriapaulista.com.br/o-que-sao-doencas-psicossomaticas/ > Acesso dia 26/09/2020, às 19:10 hs.

CARTER, Betty; McGOLDRICK, Monica. (Org.). As mudanças no ciclo de vida familiar: uma estrutura para a terapia familiar. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 1995. pp.20-1.

KRZNARIC, Roman.  O poder da empatia: A arte de se colocar no lugar do outro para transformar o mundo. Rio de Janeiro: Zahar, 2015, p.10.

SPPHIRE, Emerald. Guia de Treinamento das Características da Empatia para Evolução Emocional e Espiritual. Trad. Eliane Carvalho, Babelcube Inc., 2018, p.29.

ROGERS, Carl. Torna-se Pessoa. São Paulo: Martins Fontes, 2016, pp.20-1.

GÊNERO, Deise Carla. Teorias e Práticas da Psicopedagogia Institucional.

Referências

CARTER, Betty; McGOLDRICK, Monica. (Org.). As mudanças no ciclo de vida familiar: uma estrutura para a terapia familiar. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 1995.

DONIDA, Naiara P.; STEFFENS, Sandro R., Síndrome do Ninho Vazio: Sentimentos das Mães em Relação a Saída dos Filhos de Suas Casas. Anuário de Pesquisa e Extensão UNOESC São Miguel do Oeste, 2018, pp.5-6.

FAGALI, Eloisa Quadros. Encontros entre Arteterapia e psicopedagogia: a relação dialógica terapeuta e cliente, educador e aprendiz. In: CIORNAI, S., Percursos em Arteterapia. São Paulo: Summus, 2005.

KRZNARIC, Roman.  O poder da empatia: A arte de se colocar no lugar do outro para transformar o mundo. Rio de Janeiro: Zahar, 2015.

LUZ, BRITO DA LUZ, L.J.M.N.; BRITO DA LUZ, J.P.A. 109. A síndrome do ninho vazio. Revista Medicina Geral da Família 2000, parte III- saúde e ambientes, 3.1 ambiente familiar, dezembro, 2000.

ROGERS, Carl. Torna-se Pessoa. São Paulo: Martins Fontes, 2016.

SILVA, José Aparecido da; RIBEIRO-FILHO, Nilton Pinto. A Dor como um Problema Psicofísico. Rev Dor, São Paulo, 2011, abr-jun;12(2) pp. 138-145.

SPPHIRE, Emerald. Guia de Treinamento das Características da Empatia para Evolução Emocional e Espiritual. Trad. Eliane Carvalho, Babelcube Inc., 2018.