A Relevância das Práticas Contemplativas para a Saúde Emocional

Atividades Contemplativas

Em certos dias, é a ansiedade e dor de cabeça, em outros, noites entrecortadas pelos pensamentos repetitivos e questões não resolvidas. Ombros ‘eternamente’ enrijecidos, aquele incômodo na cervical. Ou é o estômago que não anda muito bem? Seguimos esquecendo ou adiando pendências e compromissos mais uma vez, empilhando ou embolando mesmo os tópicos importantes e urgentes. Vamos fazendo o que dá, até as próximas férias ou algum alívio no fim de semana.  

Frustração, medo, reações exageradas ou anestesiadas. São muitas as faces emocionais e respostas físicas em decorrência de uma normalidade viciante e viciada, muito convincente em meio a métodos de gestão de tempo e produtividade. Entre as horas que temos e as que precisamos, nossas armadilhas envolvem aspectos psicológicos e estruturais a respeito da ocupação.  

Precisamos de Espaço

Frequentemente converso sobre os estados regulares de tensão e alerta que vivemos. Seja nos atendimentos que faço ou com pessoas que conheço. Por vezes, entram também na pauta o cansaço e a culpa. “Não há tempo a perder” costuma ser o mantra, mas o que a gente precisa mesmo é de Espaço.

“Eu imagino um dia em que os exercícios mentais possam fazer parte de nossas vidas diárias tanto quanto os exercícios físicos e a higiene pessoal” – Dr. Richard Davidson, neurocientista, fundador e diretor do Center for Healthy Minds

De uma perspectiva de cuidado com o bem-estar pessoal, esse Espaço que menciono é a necessidade de incluir ‘respiros mentais’ ao cotidiano, através de atividades que restabelecem o equilíbrio emocional e físico, assim como reconexões com nosso senso de Propósito e autonomia, fortalecendo laços de qualidade. Cito especialmente as Práticas Contemplativas como fonte inesgotável de desenvolvimento pessoal e amplitude de visão, frente aos cenários que se apresentam, de maneira mais sistêmica.

As Práticas Contemplativas

O termo contemplativo, tido originariamente como o ato da apreciação, influencia a ciência e ganha força em diversas frentes de pesquisa. A denominada Ciência Contemplativa é a ponte entre o estudo empírico da ciência e o estudo subjetivo e experimental da consciência. Permite um conhecimento mais profundo dos fenômenos mentais e neutraliza os efeitos dos desequilíbrios conativos (intenção e desejo), atencionais, cognitivos e afetivos.

Neste portfolio estão atividades milenares como meditação, pausas de silêncio, yoga, tai chi chuan, artes manuais, canto e música. Diálogos restaurativos ou escuta profunda, contação de histórias, journaling (registros como um diário), entre outros.
Cultivam um foco em primeira pessoa; às vezes com a experiência direta como objeto, enquanto outras se concentram em ideias ou situações complexas. Incorporadas ao cotidiano, elas agem como um lembrete para se conectar ao que achamos mais significativo.

As práticas contemplativas desenvolvem capacidades para concentração e acalmam a mente. Este estado de centralidade pode ajudar a desenvolver nossa habilidade em autorregulação, maior empatia e comunicação assertiva, reduzindo o estresse e aumentando a criatividade. Podendo ser implementadas através de orientação profissional ou de forma autodirigida.

É para todo mundo!

As práticas contemplativas são aplicáveis à  diversas áreas e diferentes perfis.

Fui me apropriando do valor dessa integração da vida ‘setorizada’ em 2012, quando retornei às práticas budistas e aprofundei em conhecimentos relacionados. Em paralelo, a trajetória com grupos colaborativos amadurecia e, ao lidar com os integrantes, surgiam inúmeras questões humanas mais amplas do que o processo criativo. Até culminar na formação como professora do Cultivating Emotional Balance e ingressar na psicologia, foram (e ainda são) muitas investigações, experimentações e estudos, para além dos modelos prontos.

O melhor de tudo é poder escolher e adaptar as práticas de modo que possam incorporar-se a vida de cada pessoa. Com o tempo, percebemos a necessidade e possibilidades de melhorias em um ou mais assuntos do dia a dia. Mais insights podem surgir e melhores respostas frente aos desafios.

Profissionais de diferentes áreas relatam maior autoconfiança, motivação, equilíbrio emocional e concentração, ao decidirem por uma ou mais práticas. Há inúmeras meditações que funcionam como porta de entrada e são a base essencial para as atividades. O journaling, por exemplo, foi foco de estudos* que comprovaram que dispensar 20 minutos do dia para relatar seus pensamentos e sentimentos podem melhorar a atitude, resiliência emocional, saúde física. 

Ao decidir realizá-las, é premissa ter em mente que a regularidade, mesmo oscilante inicialmente, é fator fundamental para adquirir o hábito. Assim como não construir expectativas sobre resultados e prazos, ou comparar-se com outras pessoas.

* Pesquisa conduzida por Joshua M. Smyth na Universidade de New York

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Cleyde Engelke é bacharel em Design com especialização em Design Thinking pelo IBMEC. Instrutora de Gestão Emocional pelo Albert Einstein e Santa Barbara Institute, com formação em mediação de conflitos e práticas de diálogo. Mentora de processos criativos individuais e em grupo.

>> Gostou do artigo e quer conhecer mais sobre as emoções? recomentamos Quando as emoções tomam conta do nosso ser

>>> Agradecimento pela imagem: Mohamed Hassan ✨

O papel do coaching no equilíbrio mental

O papel do coaching no equilíbrio mental

A pandemia entrou na casa das pessoas, no trabalho, na escola, na comunidade, e invadiu literalmente espaços menos conhecidos. De repente as pessoas tiveram contato com a família dos colegas, do líder, a rotina de cada um e aos poucos as pessoas foram se conhecendo mais, até porque a rotina da casa se misturou com a rotina do trabalho. Como se as gavetas do trabalho e da vida fossem todas reorganizadas. Impossível não perceber as diferenças sociais, econômicas, padrões de conduta e formas de organizar a vida.

Parece que a pandemia veio esclarecer algo óbvio: não somos só profissionais, somos seres humanos interconectados uns com os outros, com papéis e responsabilidades em várias áreas de vida.

Acho que este é um bom começo!

Coaching, transcendendo o trabalho

Como Coach Executiva há mais de 10 anos, percebo o movimento das pessoas em focar o seu desenvolvimento nos aspectos profissionais, como uma forma de aumentar o seu impacto e produtividade. Passadas algumas sessões, percebem a experiência de coaching de forma mais ampla e profunda, como um convite para a reflexão que transcende o trabalho, um processo que visa maximizar o potencial pessoal e profissional do ser humano.

O pano de fundo do processo de coaching passa pela visão de mundo do(a) coachee. Quais áreas da vida que ele(a) prioriza? Que papéis ele(a) assume com mais propriedade? Quais valores ele(a) cultiva? A saúde mental e o bem-estar estão intrinsicamente relacionados a todos estes fatores.

Como somos seres humanos em construção, a nossa consciência com relação aos diferentes aspectos da vida muda com o passar dos anos.

Coaching e autoconhecimento

Anos atrás eu conduzi um processo de coaching de uma alta executiva de uma grande organização, e com o passar das sessões ela aprendeu que necessitava trabalhar por uma causa social, ter filhos e uma qualidade de vida que pudesse concretizar tudo aquilo. Anos depois, ela me contou que tinha saído da organização onde estava, tinha dado à luz à um casal de gêmeos e abriu um empreendimento próprio na área de nutrição e, com um sorriso agradecido, me disse: “o processo de coaching foi um divisor de águas em minha vida.

Parece ser claro que não se pode ter saúde mental e bem-estar fazendo aquilo que não gosta e que não tem conexão com o seu Propósito, mas esta clareza precisa nascer do(a) coachee, no momento dele(a). Somos o que estamos dispostos a aprender!

O processo de coaching, trabalhado de forma profunda, coloca um holofote nos Valores, crenças, identidade e Propósito, gerando uma ampliação de consciência daquilo que realmente vale a pena e gera saúde mental e bem-estar.

O protagonismo nasce da consciência da integralidade dos papéis e da consciência do Propósito. Para mim bem-estar é isto! O quanto que estou conectada comigo mesma, com as minhas crenças e escolhas.

Dicas para o autodesenvolvimento

Parece ser desafiador, em um ano de pandemia, pensar em ter equilíbrio. Assim, quero registrar aqui o meu agradecimento à friendsBee e aproveito para deixar algumas dicas muito simples de saúde e bem-estar:

  1. Desenvolva o autoconhecimento, procurando ampliar a sua autopercepção sobre seus próprios limites e sobre os fatores que geram saúde e bem-estar.
  2.  Equilibrar vários pratos ao mesmo tempo pode ser interessante se você criar uma rotina organizada, compartilhando as responsabilidades, e criando pausas para refeições, exercícios físicos e relaxamento.
  3. Cultive as relações profissionais, familiares e pessoais mesmo à distância. Muitas fontes de desequilíbrios nascem da solidão.
  4. E, por fim, conecte-se à pensamentos positivos.

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Silvana Mello é psicóloga, mestre em Administração de Empresas, Executive Coach pela Universidade de Columbia em NY – USA. Inner Game – The School of Coaching – Califórnia – USA e Neurocoach pelo Neuroleadership Institute – USA.

Fundadora e sócia da TCS – Talent Creative Solutions, lidera projetos de Transformação Organizacional. É autora do livro: Mulher empoderamento e Legado, e ainda coautora do livro: “Gestão de RH por Competências e a Empregabilidade”.

> Gostou do tema? Recomendamos o artigo complementar: O papel do coaching no desenvolvimento emocional

>> Imagem Nicole Wilcox  ✨