Há alguns anos os estudos apontam a importância do cuidado com a saúde emocional como uma tendência para o século XXI.
Entender as pessoas, conhecer suas dificuldades específicas e também a se relacionar com seus sentimentos e estados emocionais não é uma tarefa fácil. Muitos de nós têm dificuldade de lidar com as emoções, primeiro porque não aprendemos, não fomos capacitados pra lidar com os sentimentos, e segundo, por causa do preconceito. Esse tema é meio “tabu”, principalmente dentro das empresas, e isso dificulta o trabalho preventivo.
O desenvolvimento do que hoje chamamos de “soft skills”, como por exemplo autoconhecimento, vulnerabilidade, humildade, presença, escuta, confiança, empatia, dentre outros, é fundamental pra aprendermos a gerenciar a nós mesmos e o outro, com mais humanidade e também com mais maturidade mental e emocional.
No meu entendimento, o autoconhecimento é a base de tudo, nos dá repertório pra atravessarmos com menos sofrimento qualquer dificuldade. É o “be a bá” da liderança. Se você quer ser um bom líder, é importante que você se conheça e aprenda a lidar com os seus sentimentos. Fica difícil gerenciar alguém se você não consegue nem mesmo gerenciar o que acontece dentro de você. Entender o funcionamento do seu universo interno, suas crenças, limitações, potencialidades e como a sua biografia tem impacto na sua vida hoje e na sua forma se relacionar e liderar.
O despertar
Me lembro que quando me aventurei no mundo do AUTOCONHECIMENTO estava vivendo um período bem difícil da minha vida. Tudo começou quando percebi que algo estava muito errado comigo mesma: tinha menos de 30 anos de idade e dormia no máximo três horas por noite, muito perfeccionista, extremamente crítica, controladora, centralizadora e solitária – não tinha tempo pra investir nas relações, eu dedicava todo o meu tempo para o trabalho. Vivia presa por uma infindável necessidade de reconhecimento e, pra piorar, nesse mesmo período eu tinha acabado de mudar de emprego e descoberto que trabalhar com RH não me preenchia mais. Foi desesperador! Senti um vazio, um aperto dentro do peito. Tive medo. E agora? O que eu vou fazer da vida? Eu era bem reconhecida no mercado, tinha empregabilidade alta, toda minha identidade estava “amarrada” nessa história, se eu não fosse a Sofia do RH, seria quem?
Foi nesse momento que me abri para os trabalhos de autoconhecimento e me apaixonei. Foram mais de 10 anos viajando por diferentes países, do oriente ao ocidente, vivenciando diferentes práticas e métodos de autoconhecimento que unem o conhecimento, a experiência e o sentimento. Continuo investindo nesta forma de desenvolvimento, é esse aprendizado que me permite lidar com as questões relacionadas a saúde mental e emocional, principalmente dentro das empresas em tempos de crise.
Descobertas
Logo cedo aprendi sobre a PRESENÇA, comecei com o básico: a acionar dentro de mim um “eu que só observa” o que está acontecendo dentro, sem querer mudar nada, sem julgar nada, que só constata. Fui percebendo uma baita bagunça, vários sentimentos e emoções, cada um puxando pra um lado, tudo desgovernado. Aprofundei o meu estudo em cada uma dessas emoções pra pouco a pouco ir integrando, controlando e direcionando elas ao invés de ser controlada e direcionada por elas. E isso fez uma grande diferença na minha vida.
Depois, já com um pouco mais de maturidade, fui aprendendo a RELAXAR NA MINHA IMPERFEIÇÃO. A gente não foi educado pra isso, na verdade fomos educados a fazer exatamente o oposto: a esconder as nossas imperfeições e a mostrar somente aquilo que achamos perfeito. Hoje entendo que essa é a origem da maioria dos nossos problemas emocionais e, da dificuldade que temos de lidar com eles.
Investimos muito tempo tentando sustentar essa falsa perfeição e os impactos na nossa vida são imensos. Eu mesma me vi perdendo o sono, preocupada porque tinha que ter todas as respostas ou dar alguma contribuição importante naquela reunião pra deixar uma boa impressão, não podia errar. Tinha dores de cabeça, de estômago, insônia, dor nas costas. Tudo fruto do esforço pra manter essa falsa perfeição. Fui me afastando da minha verdade, perdendo a minha espontaneidade e a minha capacidade de me conectar com o outro.
A verdade tem força
É libertador quando você assume pra você mesmo que sente raiva, inveja, medo, que é meio avarento, reclamão, e tudo bem sabe?! Assumir que não é perfeito, que é humano e que está em processo de desenvolvimento como todos os outros que estão aqui também. Falando assim, parece até fácil, né?! Mas na prática, pra mim, foi muito difícil. Tinha medo de mostrar as minhas imperfeições e ser demitida, de perder meus amigos ou de ninguém mais gostar de mim. Mas chegou um momento que ficou tão insustentável que eu não aguentei mais e relaxei.
O resultado foi maravilhoso. Comecei a ser mais íntegra comigo mesma e com os outros, e isso automaticamente me conectou, abriu espaço pra minha VULNERABILIDADE. Percebi que quando eu me abro e assumo a minha imperfeição, o outro também se sente estimulado a ser mais verdadeiro, a “baixar a guarda”, e nesse momento a verdade começa a aparecer, a espontaneidade vai surgindo naturalmente e a CONFIANÇA ganha força. É muito bonito ver isso acontecendo, principalmente no mundo corporativo. Um que desperta pra essa realidade, vai despertando os demais. A verdade tem esse poder de conexão, de expansão. Tudo o que tem verdade tem força!
Quando saí desse ciclo de ter que fazer tudo perfeito, comecei a ter mais tempo para me relacionar com as pessoas, a criar alternativas para resolver problemas mais complexos com mais calma. Tudo foi ficando mais leve, mais gostoso, mais simples, e naturalmente comecei a ser reconhecida e assumir mais posições de liderança.
Colher os resultados do meu empenho e determinação no desenvolvimento destas habilidades emocionais me motivou a querer continuar neste caminho.
Apenas Ser
Foi neste momento que tive coragem pra me aventurar no mundo do SENTIR, queria continuar me transformando. Ir além do pensamento pra acessar o sentimento fez, e ainda faz, a minha transformação mudar de patamar. No meu entendimento, uma transformação só se sustenta quando acessamos o “campo” do sentir. A maioria de nós tem medo, tenta evitar ou amortecer alguns sentimentos e emoções, principalmente aqueles que nos trazem desconforto. Pude perceber que quanto mais eu escondia ou fingia que não os via, mais eles ganhavam força e, como consequência, acabavam dominando a minha vida. Sabe aquelas repetições negativas que você já percebeu que te trazem sofrimento, que você faz de tudo pra mudar mas não consegue? Aos poucos fui integrando a minha consciência com meus sentimentos pra ir mudando e me libertando desses padrões.
Hoje sou grata à vida por ter me colocado neste caminho. O desenvolvimento das habilidades emocionais nos torna um ser humano melhor e, portanto, um líder melhor. Esta foi a minha experiência pessoal e é por isso que me sinto motivada a levar esse trabalho ao maior número de pessoas possível. É assim que eu me vejo realizada. A plenitude pessoal nos move sem esforço algum.
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Sofia Guerra Nogueira é Psicóloga, Pós-Graduada em Gestão de Negócios e possui Certificação Internacional em Coaching, com sólida experiência em trabalhos de treinamento e desenvolvimento humano.
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