O poder transformador da resiliência

Resiliência

O ser humano possui a capacidade de se recuperar de situações de estresse e aprender as melhores formas de se adaptar através de pensamentos otimistas.  É o poder transformador da resiliência.

Em momentos de crise, como estes que vivenciamos na pandemia de Covid, precisamos lançar mão da nossa “caixa de ferramentas”. Uma delas é a tão falada resiliência. Vamos entender um pouco mais sobre esse recurso poderoso!

É fundamental desenvolvermos a capacidade de lidar com os contratempos e resolver os problemas que surgem. No mundo corporativo, temos todo tipo de pressão e cobranças.  São metas a serem batidas, competição, pressão por resultados, produtividade e uma infinidade de variáveis tanto internas quanto externas. Como se não bastasse tudo isso, ainda enfrentamos uma pandemia sem precedentes na história da humanidade. Diante de todo esse cenário caótico que vivemos, surge uma pergunta que não quer calar: como manter as emoções sob controle e ser um profissional resiliente?

O que é resiliência?

“Resiliência: propriedade que alguns corpos apresentam de retornar à forma original após terem sido submetidos a uma deformação elástica.”

O termo que foi “emprestado da física” vem sendo amplamente utilizado no ambiente corporativo nos dias de hoje. 

A resiliência é a capacidade de se adaptar às mudanças, superando desafios e conseguindo lidar com situações complexas.

Poderíamos, portanto, dizer que:

Um indivíduo resiliente seria aquele com a habilidade de persistir nos momentos críticos, mantendo o equilíbrio e o controle emocional. Indivíduos resilientes tornam-se mais fortes após situações complexas, pois desenvolvem confiança em si mesmos aprendendo novas formas de analisar e, consequentemente, lidar com os problemas.

E ainda, o indivíduo resiliente é flexível, pensa em opções e age, e se, por alguma razão, suas ações não obtiverem êxito, ele simplesmente para, escolhe uma outra opção e persiste! Este é o poder transformador da resiliência.

Quais as vantagens em ser um profissional resiliente?

Um profissional resiliente apresenta um grande diferencial em relação aos demais, pois ele além de ser tecnicamente competente, consegue atingir resultados muito superiores por ter a capacidade de olhar um problema por diversos ângulos diferentes e conseguir ter o equilíbrio emocional e a maturidade suficientes para não se deixar abater pelas dificuldades do momento, mas saber olhar para frente.

Desta forma, ele também apresenta um desempenho muito superior e contribui decisivamente para proporcionar melhores resultados para a empresa na qual trabalha. Fato este que aumenta significativamente a sua empregabilidade, uma vez que ele contribui de forma decisiva para o sucesso da empresa.

Características das pessoas resilientes:

Pessoas resilientes possuem a capacidade de utilizar seus pontos fortes para enfrentar os mais variados problemas. Elas não apenas se recuperam, mas também progridem. Algumas características são bem comuns nas pessoas com uma boa taxa de resiliência:

  • São capazes de lidar bem com problemas;
  • Superam obstáculos;
  • Encontram equilíbrio em si mesmas nos momentos de estresse;
  • Possuem uma visão positiva de si mesmas e de suas habilidades;
  • Possuem a capacidade de fazer planos realistas e cumpri-los;
  • Têm poder de controle interior;
  • Se comunicam bem;
  • Se enxergam como lutadoras em vez de vítimas;
  • São dotadas de alta inteligência emocional e gerenciam emoções de forma eficaz.

O dia em que a calopsita fugiu

Não tenho muito o hábito de falar de mim em meus artigos mas vou abrir uma exceção e  relatar um fato que aconteceu há 10 anos, mas que me marcou e me orgulha até hoje.

Matheus, meu filho mais novo, estava brincando no quarto com o Billy (nossa calopsita) em suas mãos.  O que ele não havia notado é que a janela do quarto estava aberta e Billy simplesmente saiu voando por ela. Meu filho gritou desesperado “Pai o Billy fugiu”, imediatamente eu desci do prédio (moro no quarto andar) e fui de casa em casa, de prédio em prédio perguntando para zeladores, moradores e pessoas que passavam na rua se alguém tinha visto o Billy. Procurei, procurei e nada do Billy. Voltei ao meu apartamento desolado, muito triste imaginando que Billy já estaria sendo refeição de algum gato. As lágrimas escorriam no meu rosto.

Minha esposa me disse: “amor não podemos fazer mais nada”. Mas eu, inconformado com a situação, desci novamente e decidi ser ainda mais detalhista, olhar terrenos abandonados e também uma faculdade próxima ao meu prédio.

Para minha grata surpresa, Billy estava no Pátio da faculdade, completamente assustado, tremendo.  Era domingo, a faculdade estava fechada. Porém não pensei duas vezes em entrar dentro da faculdade e resgatar meu “filhinho de asas”. Se você nunca teve um pet pode ser que ache a situação banal. Mas se você tem um pet, sabe muito bem do que eu estou falando.

Ao retornar para casa, caminhando pelas ruas com ele nas mãos, senti uma sensação indescritível, uma satisfação tremenda por tê-lo recuperado. Caminhava ofegante, o coração do Billy estava disparado assim como o meu, e eu, muito feliz e agradecendo a Deus.

Mais uma vez as lágrimas escorriam do meu rosto, mas dessa vez eram de pura felicidade e sensação de vitória.  As pessoas na rua, vizinhos, moradores, todos diziam “Nossa você conseguiu, salvou seu passarinho, meus parabéns!”. Este é um exemplo de resiliência que guardarei até o fim dos meus dias.

Aprenda a desenvolver e aprimorar a sua resiliência:

Abrace as mudanças em sua vida

Sair da sua zona de conforto é fundamental, pois é fora dela que você aprenderá coisas novas, desenvolverá novas habilidades e novos conhecimentos. Fuja da tentação de fazer tudo sempre do mesmo jeito. Desperte a curiosidade que há em você, permita que a inovação seja uma constante em sua vida!

Busque o autoconhecimento

Procure identificar seus pontos fortes e pontos fracos. Leia livros ou artigos sobre o tema, assista bons vídeos sobre o assunto na internet, pergunte para amigos próximos como eles te enxergam e peça que eles apontem quais seus pontos fortes e quais seus pontos de melhoria. Uma vez identificados os pontos de melhoria, busque corrigir eventuais deficiências e potencializar seus pontos fortes. Se julgar necessário, faça terapia. Os resultados podem ser muito proveitosos. Tenho certeza de que todo o esforço investido nesta busca será muito bem recompensado!

Cuide de sua saúde física e mental (mens sana in corpore sano)

Desenvolva bons hábitos de vida: faça exercícios físicos pelo menos 3 vezes por semana. Tenha toda noite um bom sono reparador de 8 horas. Não consuma alimentos que são prejudiciais à sua saúde. Evite fumar ou beber. Aprenda a relaxar, desestressar. Pode ser uma pausa de 10 minutos no trabalho para tomar um cafezinho ou escutar uma música ou simplesmente não fazer nada. Pode ser uma breve meditação, pode ser uma ligação para a pessoa amada. O importante é que seja eficaz para você! Busque o que te faz bem para relaxar. Se você não sabe ou nunca pensou nisso, sugiro que faça uma pausa na leitura e pense no assunto.

Encare as mudanças como oportunidades

Neste ambiente caótico em que vivemos, as mudanças acontecem a todo momento. O importante não é a mudança em si, mas a forma com que conseguimos nos adaptar a ela. A pandemia do corona vírus por exemplo, levou muitas empresas a realizarem o trabalho remoto. Algo aparentemente visto como ruim num primeiro momento. Entretanto, muitas empresas já admitem que, passada a pandemia, pretendem manter uma parcela significativa de seus colaboradores em trabalho remoto, pois notaram que existem diversas vantagens (principalmente financeiras) nesta modalidade de trabalho. Os próprios colaboradores perceberam que agora não perdem tempo no trânsito com deslocamentos e podem dedicar mais tempo para si e suas famílias, por exemplo.

Desenvolva a sua inteligência emocional

Inteligência emocional é a capacidade que o ser humano possui de gerenciar suas emoções. Uma boa dica para desenvolver a inteligência emocional é escrever seus sentimentos e suas ações em um papel e depois refletir sobre eles. Uma outra dica é que quando se sentir pressionado, procure manter a calma, entender o que está acontecendo e qual a melhor forma de agir. Passado o momento de pressão, é importante refletir sobre o que foi feito e analisar erros e acertos e, a partir daí, reconhecer como você age nestas situações. O autoconhecimento é fundamental!  A inteligência emocional quando bem desenvolvida é uma arma poderosa para aprimorar a sua capacidade de ser um profissional resiliente.

Busque a motivação no trabalho

Por que você trabalha? Para ganhar um salário no final do mês e pagar suas contas? Espero que não seja este o seu caso. O trabalho vai muito além da questão de se arcar com compromissos financeiros, é uma oportunidade de realização pessoal, de crescimento profissional, desenvolvimento intelectual e convivência social. Ele tem que ser prazeroso e gratificante. Se você não pensa assim, de duas uma: ou você está na empresa errada, ou a empresa errou ao lhe contratar.  Se você tem um emprego que não gosta, que não se sente feliz, as suas chances de desenvolver a resiliência diminuem tremendamente. Portanto, é fundamental que você busque se automotivar desenvolvendo atividades que lhe sejam prazerosas e desafiadoras. Também é muito importante buscar parceiros no trabalho. Pessoas com quem você possa trocar conhecimentos, experiências e possam ajudar um ao outro nos momentos de dificuldade.

O poder transformador da resiliência

A grande conclusão que chegamos ao analisar a resiliência, é que ela representa de fato um grande diferencial competitivo, pois ela nos proporciona superarmos os obstáculos e as crises da vida de forma equilibrada e com sabedoria.

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Paulo Abrantes é membro do Conselho de Administração da EBC – Empresa Brasil de Comunicação, onde preside o Comitê de pessoas, elegibilidade, sucessão e remuneração. Atua também como executivo de Marketing, palestrante e é autor de diversos artigos sobre gestão, liderança, resiliência, administração do tempo dentre outros.   

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>> Leia também: Crenças Limitantes, a vida dirigida pelo inconsciente, de @aline-paixao

Imagem produzida por Inteligência Artificial – Midjourney ✨

Como está a sua bagagem da vida?

Como está a sua bagagem da vida?

Depois de dez horas de voo, deixei de ser quem eu era.

Sentia-me invisível e, apesar de estar inserido em uma sociedade organizada e respeitosa, simplesmente eu parecia não existir. As interações com as outras pessoas não passavam de simples perguntas e respostas. Assim, mesmo com a tecnologia atual, a solidão me mostrou a sua face mais cruel.

Tudo começou com a decisão de colocarmos em prática um antigo desejo: nos mudarmos para a Europa. Nasci no berço de uma família portuguesa tradicional que sempre viveu intensamente a sua cultura, transmitindo-a às novas gerações. Então a decisão pareceu-me óbvia: voar para Lisboa com a mesma coragem dos meus avós quando deixaram Portugal rumo ao Brasil. Decidi por ir na frente para organizar tudo antes da chegada da minha família, o que demorou dois longos e penosos anos.

E aí começaram os meus problemas

Passei a viver como um cidadão comum em Lisboa, mas com uma diferença importante: a minha bagagem da vida estava completamente desconectada com a realidade deste novo mundo. E aí começaram os meus problemas.

“Eu jamais poderia imaginar a intensa experiência que eu estava prestes a vivenciar, e como isso mudaria a forma como vejo o papel das interações humanas na nossa vida.”

Meu estado emocional começava a dar sinais de que o meu corpo catalisaria de forma ruim esses sentimentos. Uma enxurrada de maus pensamentos começava a cobrar um preço alto, ocupando mais espaço na minha mente e tirando o foco do que era importante. Vagava pelos shopping centers apenas para ver e ser visto, e por diversas vezes tive medo de dormir. Se eu tivesse um mal súbito, a quem eu poderia recorrer?

Confesso que pensei em desistir, uma vez que a perda das referências pessoais me colocou num estado de dissonância cognitiva contínua. Meu cérebro passou a agir como um rato de laboratório que gira sem fim naquelas rodas de estímulos. Não podia mais seguir assim e decidi procurar apoio emocional nos relatos de pessoas que passaram por algo semelhante.

“As interações humanas colecionadas ao longo da vida e o ambiente no qual estamos inseridos moldam o nosso caminho.”

A virada de chave

Logo, busquei por muita informação que explicasse o que eu sentia e entendi que a minha angústia vinha do fato de que eu perdera as referências do meu lugar quando deixei no Brasil meu conjunto de experiências. Ficou claro que a construção do novo lugar se basearia num complexo conjunto de vivências pessoais. Então, teria de viver a cultura do ambiente, as interações humanas, os sentimentos e as decisões que seriam determinantes na pavimentação da estrada que me levaria a ocupar meu espaço.

“Apesar de ter identificado a causa raiz da minha angústia, eu precisaria criar mecanismos para encontrar o meu novo lugar.”

Se por um lado a minha antiga bagagem de uma vida tinha ficado para trás, do outro eu já estava mentalmente forte e pronto para começar a colecionar novas interações humanas e criar a minha nova bagagem da vida além-mar.

Um pouco sobre Inteligência Emocional

Segundo o autor Daniel Goleman, a inteligência emocional demanda cinco competências essenciais: descobrir suas emoções e seus sentimentos, reconhecê-los, administrá-los, administrar as relações pessoais e motivar-se.

A fase da descoberta das emoções já estava concluída. Faltava “apenas” as outras fases, que não seriam nada fáceis de executar. Por isso, resolvi empreender uma série de ações para tentar mudar a minha situação.

Gestão das emoções

Propósito e missão: para fortalecer o meu aspecto emocional, eu ressignifiquei minha missão e iniciei um negócio próprio. Isso me deu um propósito sólido que abriu caminho para iniciar as interações sociais com foco específico.

Exercício físico: corpo são, mente sã. Optei por caminhar sempre que possível. Se a distância entre dois pontos era igual ou inferior a cinco quilômetros, eu caminhava. Aproveitei para ver Lisboa a partir de uma outra perspectiva.

Gerir as relações pessoais

Criar e fortalecer novos vínculos: criei importantes laços de amizades, em especial com um amigo português a quem sou muito grato. Costumo dizer com frequência que “ele me salvou” em diversos momentos difíceis. Também conquistei o respeito de importantes fornecedores que são essenciais para o meu negócio.

Motivação

Disciplina: acredito firmemente que para tudo na vida são necessários organização e métodos, e para que ambos aconteçam é importante que haja muita disciplina. Optei por uma rígida rotina de horários e passei a não mais autorizar meu cérebro a ter pensamentos destrutivos.

Autoestímulo: coloquei vários porta-retratos com fotos da minha família pela casa, para que eu jamais me esquecesse do propósito maior dessa aventura. Também colei bilhetes com frases estimulantes em diversos lugares.

Celebração: celebrava as conquistas mesmo que sozinho. Fazia questão de dividir com a minha família cada novo passo dado na direção da concretização dos nossos planos.

“A longa espera finalmente acabou. Estávamos novamente reunidos para enfrentar os desafios de um recomeço em um novo ambiente.”

Juntos nos fortalecemos

A tão esperada chegada da minha família também não seria um evento fácil. Meu filho veio diretamente para Lisboa depois de três anos de estudos no Canadá. Não teve tempo para digerir a mudança e nem de se despedir da casa onde ele cresceu. Minha filha, que participou ativamente do processo de mudança, sofreu por deixar para trás as suas raízes e amizades. E a minha esposa também passou pelos mesmos momentos de angústia que eu passei, principalmente com relação ao seu trabalho.

Apesar do meu apoio e suporte à chegada deles, cada um a seu modo teve de lidar com as rupturas causadas pela mudança. Claro que os mais jovens, com suas bagagens de vida ainda em formação, se adaptaram e refizeram suas interações humanas muito rapidamente. Entretanto, o que ficou mais evidente é que juntos o caminho ficou menos penoso e mais sólido do que eu havia experimentado.  

“Para Aristóteles, viver coletivamente é a única chance que temos para sermos humanos de verdade.”

No dia 04 de setembro de 2021 o plano de mudar para a Europa completou quatro anos e os aprendizados ainda continuam. Aristóteles  escreveu que a natureza humana exige a vida em sociedade. Porém, eu diria que a natureza humana exige experienciar a sociedade em todos os seus aspectos mais humanos.

E nós? Bem, apesar de termos encontrado o nosso lugar, posso dizer que mal começamos a nova coleção de interações humanas.

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Marcelo Bandeira é sócio-fundador da Europeltier Thermotechnology , uma empresa de gerenciamento térmico industrial. Atuou por mais de 15 anos como executivo de marketing. Atualmente procura encher cada vez mais a sua nova bagagem da vida em Lisboa, Portugal.


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