Professores Heróis – a arte de educar em comunidades

educação infantil nas escolas públicas

Certo dia vi uma postagem em uma rede social que dizia o seguinte:

Que os professores públicos não trabalham, que não fazem o mesmo que os das escolas particulares, que o ensino é péssimo, que a instituição é falida e por aí vai.

Eu, como professora da rede pública de ensino, diretora de uma unidade escolar com mais de 400 alunos, e que atua dentro de uma comunidade, onde existem conflitos constantes, composta de crianças carentes, várias delas sem alimentação adequada, em um núcleo familiar desestruturado, com a saúde mental comprometida entre tantas outras complicações, posso dizer, com certeza absoluta: Temos os melhores professores! Afinal, como conseguir alfabetizar, inserir esta criança em uma sociedade superexigente, tendo como público alvo este perfil?

             Fácil letrar aqueles que tem uma saúde física e mental privilegiada.

A arte de educar em Comunidades

Imagina estar dando aula e, de repente, começar um tiroteio, praticamente dentro da escola cheia? Crianças rezando, suas mãozinhas juntas de joelhos no chão, lágrimas escorrendo em seus rostos desesperados, agarradas na nossa cintura.

E, acreditem, muitas preocupadas com seus pais, imaginando se são parte da ação em andamento. Então, correm agachadas para um lugar que seja ao menos mais seguro, como se estar seguro fosse tudo que importasse. Neste mesmo momento percebemos que a vida é a única coisa que importa.

Se sabemos ler e escrever, se podemos fazer contas de dividir ou somar, se fazemos textos com parágrafo ou se utilizamos gêneros textuais adequados, nada disso importa.

A vida, a integridade, a saúde mental e a estrutura psicológica, ficam extremamente comprometidas.

Professores, funcionários, alunos e responsáveis, todos naquele momento, abalados. E assim, terminamos o dia com mães e responsáveis vindo pegar seus filhos, enfrentando os perigos para buscar os pequenos, e, é lógico, acreditando que em seus braços estariam mais protegidos.

O dia seguinte ao perigo real

E como iniciar o dia seguinte depois disso, como ensinar? Professores preocupados, “Será que podemos entrar na comunidade?” “Vai abrir?” “Está tudo bem?” Como se “tudo bem” fosse possível!

Neste momento ninguém se sente seguro. Uma professora então se afasta por questões emocionais com uma semana de atestado “neste momento não existe possibilidade nenhuma de estar aí” diz ela.

E, lógico, todos os outros professores também estão com muito medo. Medo pela vida, pela integridade. E eu pensando, “preciso estar forte, criar uma fortaleza, se eu desmoronar, todos caem”. Acredito que, como gestora, tenho de dar forças, ouvir e ouvir. Estar presente, literalmente. Amparar, confortar.

E então mais um dia começa, e a escola é aberta. Logo iniciamos como se nada tivesse acontecido. Comunidade praticamente normal, pessoas caminhando, caminhão recolhendo o lixo e comércio local funcionando normalmente. E na minha cabeça só vem essa pergunta “como assim?”, até quando vamos suportar isso? E os professores?  E as crianças?  

A necessidade humana de desabafar

Eles, alunos e pais, muitas vezes só querem  fazer uma catarse, e pensamos: “também precisamos disso”. Precisam descrever seus temores, relatar suas experiências, mostrar suas indignações, e nós, professores, precisamos estar “bem” para ajudar emocionalmente. Assim, iniciamos o dia parando pra ouvir seus relatos, muitas vezes emocionados, pois perderam um parente, outros no hospital e por aí vai.

Durante alguns minutos do dia, que tiramos para ouvir as histórias, é que conseguimos entender o porquê de tudo! Estes alunos são pequenos heróis, vencedores, guerreiros! Acredito que existam adultos que não suportariam as dores e angústias deles.

E amam, amam muito as professoras e a escola, fazendo dela o seu segundo lar, muitos até o primeiro! Seus olhos nos trazem esperança! Como não amar, como não lutar por eles? Impossível!

          Nos vemos pequenos diante deles. E eles veem em nós a esperança, o refúgio, o espaço no universo. Somos muito importantes pra eles e eles, pra mim, são tudo!

Estas crianças precisam de nós, e aqueles profissionais que entendem isso não conseguem largar, não desistem, também são heróis. É um amor estranho, que domina, que preenche. Então, lutamos!

Professores heróis, o amor e a missão

Utilizamos estratégias, fazemos diagnoses, corremos atrás dos prejuízos causados pela dor, pela indiferença, pelas circunstâncias. Pegamos aqueles que aprenderam pouco e, se for possível, damos aulas particulares.

Enfim, criamos meios e fins para levantá-los, nem que pra isso tenhamos que colocá-los no colo, mas eles precisam vencer! Não podemos perder nenhum aluno! Não vamos perder! Este é o nosso foco.

E então percebemos que estar neste lugar, mesmo correndo riscos, o medo e a insegurança são indiferentes. Eles precisam de nós. É como uma responsabilidade extrema, uma necessidade maior, não conseguimos largar.  

Minha preocupação é saber que de alguma forma farei a diferença (na vida dos alunos). Preciso fazer. Preciso ajudar! Seus olhos são minha maior motivação. Suas palavras, seus amores incondicionais, meu combustível.

 E neste momento penso no futuro, como será ele? Será que estarei aposentada e emocionalmente bem? Acredito que tenha de fazer análise. Ou utilizar meu tempo em viagens, spas, passeios, viver a vida.

               Não somos os piores professores. Fazemos o melhor dentro dos piores momentos. Criamos sonhos. Trazemos esperança.

Espero olhar pra trás e ver que tudo que fiz, valeu a pena.

Então, perceber que aprender as matérias faz parte, mas aprender a “viver” com dignidade é o maior legado que deixaremos pra eles. Assim, torcer para que eu mesma não saia dessa precisando de amparo. E então, finalmente entender que fiz a diferença! E nunca deixar de acreditar que a “educação” transforma vidas!

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Cristina Oliveira Carneiro, psicopedagoga, professora de letras literatura e diretora de uma unidade pública de ensino no Rio de Janeiro.

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Liberte-se do medo de falar Inglês – 4 dicas

Inglês sem medo

A princípio, ele pode ser o terror de muitas pessoas. Difícil, diferente, impossível! São muitos os adjetivos negativos que alguns atribuem a esta ferramenta tão poderosa: o idioma inglês. Aqui conto 4 dicas simples e eficazes para se libertar do medo de falar inglês.

Durante esses vinte anos ensinando o idioma, ouço com recorrência as mesmas reclamações das pessoas que me procuram para aprender. Os relatos de sofrimento se repetem ano após ano, trazendo para parte das pessoas que precisam deste recurso um peso desnecessário.

O bloqueio

Muitos destes indivíduos relatam já terem tentado por diversas vezes iniciar cursos e mais cursos, sem sucesso. Não se adaptam a nenhum método, não gostam de alguns professores, literalmente acreditam ser impossível aprender inglês e veem seu investimento escorrendo pelo ralo ano após ano, sem evolução na prática.

Já recebi relatos, inclusive, de pessoas que criam um bloqueio tão forte com o idioma, que se veem psicologicamente abalados quando são expostos a uma situação em que se faria necessário se comunicar em inglês. As mãos suam, o coração acelera, a fala trava, e o corpo acaba por reagir fisicamente a um estímulo que deveria ser agradável. 

Eu costumo dizer que ninguém está sozinho nessa jornada. Hoje sabemos que o idioma inglês não é mais um “plus” na carreira de um profissional, mas uma necessidade básica para quem deseja crescer profissionalmente e explorar oportunidades mais interessantes e prósperas. Além disso, viajar se torna uma missão muito mais tranquila e prazerosa quando se domina o idioma que é falado em todos os lugares do mundo. 

A solução

Mas como fazer para ultrapassar tantas barreiras e começar a se sentir confortável com o inglês? Deixo aqui 4 dicas simples e eficazes para libertar-se do medo de falar inglês.

1- Não tenha pressa

É muito comum conhecer alunos que mal começam a estudar inglês e já querem “falar fluentemente”. Costumo provocar com perguntas como: “Você já viu algum médico se formar em 6 meses?”.

 “Que tal se planejar para pelo menos dois anos de estudo contínuo e pensar que, no final deste período, você já estará se comunicando em inglês se, de fato, começar agora e não desistir no meio do caminho?”.

É imprescindível que as pessoas tenham a consciência de que falar uma nova língua requer tempo e dedicação. Não há fórmula mágica, mas com constância e persistência é possível chegar neste objetivo. 

2- Escolha o método que mais te agrada

Nada mais insuportável do que estudar algo que você não gosta ou que a didática não funciona para o seu estilo de aprendizado. Lembro de alguns professores que tive na faculdade de Engenharia que transformavam qualquer aula em sonífero. Havia também os que conseguiam manter minha atenção e foco sem que eu fizesse qualquer esforço para tal. Portanto, busque um curso, mentoria ou professores particulares que te tragam bem-estar no momento de estudar, que consigam prender a sua atenção e que te motivem a continuar.

Para absorver qualquer conteúdo sem sofrimento, é necessário que as experiências de aula te deem prazer, que sejam interativas e leves. Assim, o que antes era um sacrifício, passa a ser um momento não só de desenvolvimento de habilidades, mas também de lazer. 

3- Se exponha ao idioma e use a tecnologia a seu favor

Essa é uma das dicas que costumo passar nas minhas primeiras aulas: “Imagine que você está estudando inglês uma vez por semana, por duas horas, e só volta a ter contato com o idioma sete dias depois. Qual o resultado você espera disso?”.

Parece óbvio, mas por incrível que pareça, muitas pessoas não refletem sobre essa falta de contato com a língua e caem no limbo do “entra e sai de cursinho de inglês”. 

Para manter o cérebro em consonância com um novo idioma, é importante que o indivíduo se exponha o maior tempo possível do seu dia à língua. Como fazer isso? É possível começar mudando o idioma do telefone celular para inglês, por exemplo. A partir disso, a pessoa já terá um estímulo diário com palavras na língua estrangeira.

Há também uma infinidade de aplicativos que ajudam no aprendizado de idiomas, por exemplo, os que mostram uma palavra nova em inglês a cada vez que a pessoa desbloqueia o próprio aparelho de celular.

Ouvir músicas, podcasts, assistir vídeos (mesmo com legenda em português) no idioma estrangeiro, também são formas de ensinar nosso cérebro a se acostumar com as novas palavras, a pronúncia, a entonação e até o ritmo das falas. Portanto, quanto mais exposição ao inglês, mais rápido será o aprendizado. 

4- Fluência é saber se comunicar

Em apenas um clique, é possível encontrar em sites de busca milhares de opções de cursos, aplicativos, professores, aulas online, e outros recursos para aprender inglês. Também é muito comum ouvir as mais diversas, e até contraditórias, opiniões de professores do idioma pelas redes sociais.

Alguns prometem a “fluência” em seis meses. Outros te vendem cursos para “falar igual a um nativo”. Há também os que dizem que somente com um intercâmbio você poderá “alcançar a verdadeira fluência”. Acredito que não exista uma regra absoluta ou um método perfeito, mas tenho alguns pontos de vista que podem ajudar algumas pessoas a aliviar o peso da cobrança da tal “fluência”. 

Pense nisso:

Para começar, o inglês é um idioma falado globalmente, o que significa que pessoas de inúmeros países falam inglês com algum tipo de sotaque diferente. Sotaque todos têm algum, até dentro de um mesmo país. Portanto, não; as pessoas não precisam falar “inglês nativo” para conseguirem evoluir profissionalmente ou para viajar.

Existem mais falantes de inglês “não-nativos” do que os próprios nascidos em países em que este é o idioma materno.

Além disso, a definição do que é fluência é bastante subjetiva; tudo vai depender da necessidade de cada pessoa. Há indivíduos que precisam do inglês para trabalhar com clientes estrangeiros, outros que precisam para escrever teses de doutorado, ou os que querem falar inglês apenas para viagens. Se todas estas pessoas conseguirem atingir o objetivo de se comunicar em inglês e realizarem suas tarefas de forma eficiente e compreensível, será que elas estão em um mesmo “nível” do que é chamado de fluência?

 Será que existe algum tipo de régua para delimitar o que é fluência ou não? O que realmente importa é a habilidade de comunicação.

Quando as pessoas se libertam da obrigação de falar “fluentemente” e começam a focar na “compreensão mútua”, todo o resto começa a de fato, fluir. 

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Monik Paiva é Engenheira de Produção, empreendedora digital e multiprofissional. Membra da Future Females Business School. Fundadora + CEO + Teacher do movimento de mulheres Inglês das Minas. Tem como missão transformar o mundo e a vida das mulheres através do ensino de inglês acessível e acolhedor.

> para conhecer: @souinglesdasminas | contato: [email protected]

>> Que tal entender melhor o impacto das emoções no aprendizado? Recomendamos o artigo “Quando as emoções tomam conta do nosso ser”, da coach @joincy-luz

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Parentalidade, a empresa e o trabalho de gerir um outro ser

parentalidade, mãe e carreira

“Estou grávida, mas não estou doente”. Repeti essa frase por muitas vezes na minha primeira gestação quando as pessoas queriam fazer algo por mim e eu me forçava a fazer tudo.
E assim continuei: fazendo tudo o que eu fazia, trabalhando até tarde, entregando como sempre entreguei, subindo e descendo escada, cuidando das coisas da casa…

Engordei 20kg, mas as aulas de pilates antes e a hidroginástica após o horário do trabalho me deixavam aliviada de que eu estava cuidando do meu bebê.

Então meu filho nasceu! Após uma noite toda em trabalho de parto, lembro do cheiro dele quando veio direto para o meu colo, e ficou ali quentinho, perto de mim. Não lembro do choro, só lembro de achá-lo lindo, de colocá-lo em meu peito, ver ele aprendendo a mamar e eu (re)descobrindo a natureza sábia e perfeita. Naquele momento nascia meu primeiro filho – isso era óbvio e todo mundo sabia.

O que eu demorei algum tempo para perceber é que ali, também, eu renascia! Uma outra mulher estava surgindo!

Idealização e a realidade de ser mãe

Eu sempre quis ter filhos, sempre falei que não precisava de ajuda para cuidar dele, precisava apenas de alguém para dar conta da casa. E foi assim que meus dias seguiram: trocando fralda, dando banho, amamentando em livre demanda, emendando uma mamada e outra na poltrona de amamentação, pois ali mesmo eu caia no sono.

Tive uma maravilhosa licença maternidade, fazendo aulas de dança materna, curso de Shantala, consultas longas no pediatra que me faziam aprender sobre mim e sobre meu filho, acompanhando, no dia a dia, cada evolução dele: sorriso, levantar a cabeça, balbuciar, ficar em pé no berço.

Mas preciso confessar que nem só de lindos momentos vivi essa licença. Além de ter sido bem diferente daquela que eu idealizava, com tardes na piscina e horas na academia, ela também teve momentos de solidão, desespero, raiva, angústia, vontade de sumir…

Ao cuidar de um outro ser, aprendi que o que eu achava que era o meu limite não era, que se eu fazia muitas tarefas, eu consigo realizar mais, que a força que eu tenho é inabalável e que todo o amor que eu tinha sentido até então era um amor diferente do que eu aprendi a sentir.

Coloquei outro sentido nas coisas, voltei a ver a praia, a chuva, a pedrinha da calçada, como se fosse a primeira vez. O toque ficou sutil e algumas novas dores também tomaram conta de mim.

O fim da licença-maternidade

A minha carreira, tão importante na minha vida, quase foi deixada de lado quando eu tive que voltar a trabalhar ao final de uma licença de 7 meses – período esse superior ao que a grande maioria das mulheres têm de licença maternidade e que eu considero o mínimo que deveria existir.

E mais uma vez tive que encarar um novo desafio, com novas aprendizagens e crescimento.

Voltar a trabalhar após uma licença maternidade é um dilema perverso: tivemos que nos entregar tanto para aquele ser tão dependente, criamos vínculo e, após passar 24h por dia junto dele, temos que nos separar por mais de 8 horas, no mínimo. É um corte abrupto que machuca e nos faz sofrer antecipadamente.

Ao mesmo tempo, sabemos que vamos perder aquele sorriso, cada pequeno desenvolvimento, as novas comidas, as novas palavras, precisamos nos adaptar à uma nova/antiga realidade: amigos, trabalho, produção, trabalho em equipe.

Por mais que isso doa, em um primeiro momento a gente vai se adaptando, percebendo a empatia (ou não) das pessoas ao nosso redor, conhecendo mais o lugar que trabalhamos, encarando o trabalho de outra forma, conseguindo nos impor mais, fazendo as tarefas com mais praticidade e resiliência e olhando a vida sob outra perspectiva.

Também começamos a entender, que apesar de “nosso”, o filho é de toda uma comunidade. É em nossos braços que eles se sentem seguros, é o nosso colo que procuram quando choram, mas estar aos cuidados de outras pessoas – que cuidam bem dele, claro – também é bom para a criança, e para aquela mãe que, ao estar com seu filho, se entrega 100%.

                O exemplo que damos aos nossos filhos é que, apesar do papel de mãe ser fundamental e importante em nossa vida, temos diversos papéis que também nos complementam e nos fazem feliz!

Parentalidade, aprendizados

Hoje vejo o quanto esse processo me amadureceu, mas se eu pudesse voltar no tempo, faria tudo com mais leveza. Eu absorvi muitas coisas e me sobrecarreguei, sofri e, algumas vezes, inclusive descontei no meu filho, sofrendo muito mais por isso!

Não… gestação não é doença, mas é um período único em nossa vida em que estamos investindo energia para criar um outro ser humano. Temos dentro de nós “futuros cidadãos” que vão formar a próxima geração. Por isso cuidar do corpo e da mente é fundamental!

Está tudo bem aceitar a ajuda de alguém para pegar aquele papel que caiu no chão.

Sim, está tudo bem trabalhar um pouco menos e ir para casa dormir porque estamos cansadas.

E também está tudo bem aceitar que podemos desconectar do mundo lá fora e nos conectar conosco e com aquela pessoinha que está dentro da gente.

Deixar-se cuidar

Na ânsia de darmos conta de tudo, conquistar o que as mulheres antes não conseguiam e de acharmos que temos que ser fortes o tempo todo, podemos estar matando dentro de nós características femininas tão essenciais como a intuição, o acolhimento, a empatia – que nos auxilia tanto na maternidade como no mundo corporativo.

         Quando nos tornamos mães entramos em um campo que não dominamos, mas exigimos de nós mesmas sermos PhD em tudo aquilo que estamos fazendo, e não precisa ser assim.

Precisamos entender que, ao nos tornarmos mães, assumimos uma função nova e, tal qual qualquer nova atividade, precisamos nos dedicar à aprendizagem – e isso vai muito além do enxoval e do chá de bebê. Precisamos falar sobre o puerpério, sobre a solidão que sentimos estando ao lado da pessoa que se tornou a mais especial em nossas vidas, mas que essa pessoa não preenche o vazio que estamos sentindo quando a gente pensa que às 3h da manhã estão todos dormindo e se divertindo e só nós estamos acordadas amamentando.

Pós-parto, o que tem que ser dito?

Precisamos falar que ter filho é encontrar um amor que nunca encontramos, mas é também enlouquecedor quando somos privadas das horas de sono e do looping de atividades que temos que fazer: troca fralda, mama, coloca pra dormir, acorda, troca fralda e assim sucessivamente dias seguidos.

Um preparo pré-natal deveria ir muito além dos cuidados médicos gestacionais. Entender como será nosso parto é extremamente importante, mas também podemos pensar em como será o pós-parto: quem pode nos ajudar com a amamentação, quais são os profissionais que podem nos auxiliar, quem será nossa rede de apoio, como saber se tenho só um babyblues ou se é uma depressão pós-parto?

                         Tomarmos decisões tão importantes em um período de vulnerabilidade e com tantas coisas a aprender pode não só ser difícil como pode não ser a melhor escolha.

Eu tive a grande sorte de ter encontrado ótimas profissionais que me ajudaram nesse período, que me mostraram um outro lado da maternidade.

Ao voltar a trabalhar também tive a sorte de ter chefe, RH e colegas de trabalho que respeitaram e acolheram minhas escolhas – e que, vale ressaltar, eu tive a coragem de expor. Sei que muitas mulheres não tiveram e não tem a mesma sorte.

Em resumo

Por isso, ao gestar um ser humano, preocupe-se com a sua saúde física, mental e emocional. Busque informações! Não tenha vergonha de perguntar o que talvez seja óbvio para algumas pessoas, não aceite tudo o que lhe é dito! Questione, busque informações em fontes diversas, questione até mesmo os médicos.

Entenda que seu corpo fez de duas células um ser humano com cérebro e você é capaz de ser uma mãe maravilhosa, só precisa entender que está aprendendo a exercer esse papel e, como tudo nessa vida, você se torna melhor a cada dia!

Entenda que ser mãe é um papel primordial em nossas vidas, que nos enriquece, nos fortalece, mas que dentro dessa mãe ainda existe uma mulher inteira, com seus desejos e anseios, respeite essa mulher – dê esse exemplo a seus filhos para que no futuro eles respeitem a você, a eles mesmos e ao próximo!

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Tarsila P Viggiani é Relações Púbicas, Educadora Perinatal, Doula, Mãe do Joaquim e do Pedro, dona de casa, amiga e milhares de outras coisas que as mulheres podem ser hoje. E por entender que ser mãe é algo tão importante em nossas vidas, mas não é a única coisa, criou a Cy Assessoria Familiar, a primeira empresa voltada para a jornada materna, informando, acolhendo e empoderando a mãe em seus mais diversos papéis.

Contato: @cy_assessoriafamiliar

Que tal entender mais sobre as suas Emoções? Recomendamos 2 ótimos artigos:

> Quando as emoções tomam conta do nosso ser, da Mentora de Carreira, Joincy Luz

> Emoções, o que são e como são feitas?, da neurocientista Caroline Hannickel

>> Agradecimento pela imagem: Ivone de Melo ✨

Como está a sua bagagem da vida?

Como está a sua bagagem da vida?

Depois de dez horas de voo, deixei de ser quem eu era.

Sentia-me invisível e, apesar de estar inserido em uma sociedade organizada e respeitosa, simplesmente eu parecia não existir. As interações com as outras pessoas não passavam de simples perguntas e respostas. Assim, mesmo com a tecnologia atual, a solidão me mostrou a sua face mais cruel.

Tudo começou com a decisão de colocarmos em prática um antigo desejo: nos mudarmos para a Europa. Nasci no berço de uma família portuguesa tradicional que sempre viveu intensamente a sua cultura, transmitindo-a às novas gerações. Então a decisão pareceu-me óbvia: voar para Lisboa com a mesma coragem dos meus avós quando deixaram Portugal rumo ao Brasil. Decidi por ir na frente para organizar tudo antes da chegada da minha família, o que demorou dois longos e penosos anos.

E aí começaram os meus problemas

Passei a viver como um cidadão comum em Lisboa, mas com uma diferença importante: a minha bagagem da vida estava completamente desconectada com a realidade deste novo mundo. E aí começaram os meus problemas.

“Eu jamais poderia imaginar a intensa experiência que eu estava prestes a vivenciar, e como isso mudaria a forma como vejo o papel das interações humanas na nossa vida.”

Meu estado emocional começava a dar sinais de que o meu corpo catalisaria de forma ruim esses sentimentos. Uma enxurrada de maus pensamentos começava a cobrar um preço alto, ocupando mais espaço na minha mente e tirando o foco do que era importante. Vagava pelos shopping centers apenas para ver e ser visto, e por diversas vezes tive medo de dormir. Se eu tivesse um mal súbito, a quem eu poderia recorrer?

Confesso que pensei em desistir, uma vez que a perda das referências pessoais me colocou num estado de dissonância cognitiva contínua. Meu cérebro passou a agir como um rato de laboratório que gira sem fim naquelas rodas de estímulos. Não podia mais seguir assim e decidi procurar apoio emocional nos relatos de pessoas que passaram por algo semelhante.

“As interações humanas colecionadas ao longo da vida e o ambiente no qual estamos inseridos moldam o nosso caminho.”

A virada de chave

Logo, busquei por muita informação que explicasse o que eu sentia e entendi que a minha angústia vinha do fato de que eu perdera as referências do meu lugar quando deixei no Brasil meu conjunto de experiências. Ficou claro que a construção do novo lugar se basearia num complexo conjunto de vivências pessoais. Então, teria de viver a cultura do ambiente, as interações humanas, os sentimentos e as decisões que seriam determinantes na pavimentação da estrada que me levaria a ocupar meu espaço.

“Apesar de ter identificado a causa raiz da minha angústia, eu precisaria criar mecanismos para encontrar o meu novo lugar.”

Se por um lado a minha antiga bagagem de uma vida tinha ficado para trás, do outro eu já estava mentalmente forte e pronto para começar a colecionar novas interações humanas e criar a minha nova bagagem da vida além-mar.

Um pouco sobre Inteligência Emocional

Segundo o autor Daniel Goleman, a inteligência emocional demanda cinco competências essenciais: descobrir suas emoções e seus sentimentos, reconhecê-los, administrá-los, administrar as relações pessoais e motivar-se.

A fase da descoberta das emoções já estava concluída. Faltava “apenas” as outras fases, que não seriam nada fáceis de executar. Por isso, resolvi empreender uma série de ações para tentar mudar a minha situação.

Gestão das emoções

Propósito e missão: para fortalecer o meu aspecto emocional, eu ressignifiquei minha missão e iniciei um negócio próprio. Isso me deu um propósito sólido que abriu caminho para iniciar as interações sociais com foco específico.

Exercício físico: corpo são, mente sã. Optei por caminhar sempre que possível. Se a distância entre dois pontos era igual ou inferior a cinco quilômetros, eu caminhava. Aproveitei para ver Lisboa a partir de uma outra perspectiva.

Gerir as relações pessoais

Criar e fortalecer novos vínculos: criei importantes laços de amizades, em especial com um amigo português a quem sou muito grato. Costumo dizer com frequência que “ele me salvou” em diversos momentos difíceis. Também conquistei o respeito de importantes fornecedores que são essenciais para o meu negócio.

Motivação

Disciplina: acredito firmemente que para tudo na vida são necessários organização e métodos, e para que ambos aconteçam é importante que haja muita disciplina. Optei por uma rígida rotina de horários e passei a não mais autorizar meu cérebro a ter pensamentos destrutivos.

Autoestímulo: coloquei vários porta-retratos com fotos da minha família pela casa, para que eu jamais me esquecesse do propósito maior dessa aventura. Também colei bilhetes com frases estimulantes em diversos lugares.

Celebração: celebrava as conquistas mesmo que sozinho. Fazia questão de dividir com a minha família cada novo passo dado na direção da concretização dos nossos planos.

“A longa espera finalmente acabou. Estávamos novamente reunidos para enfrentar os desafios de um recomeço em um novo ambiente.”

Juntos nos fortalecemos

A tão esperada chegada da minha família também não seria um evento fácil. Meu filho veio diretamente para Lisboa depois de três anos de estudos no Canadá. Não teve tempo para digerir a mudança e nem de se despedir da casa onde ele cresceu. Minha filha, que participou ativamente do processo de mudança, sofreu por deixar para trás as suas raízes e amizades. E a minha esposa também passou pelos mesmos momentos de angústia que eu passei, principalmente com relação ao seu trabalho.

Apesar do meu apoio e suporte à chegada deles, cada um a seu modo teve de lidar com as rupturas causadas pela mudança. Claro que os mais jovens, com suas bagagens de vida ainda em formação, se adaptaram e refizeram suas interações humanas muito rapidamente. Entretanto, o que ficou mais evidente é que juntos o caminho ficou menos penoso e mais sólido do que eu havia experimentado.  

“Para Aristóteles, viver coletivamente é a única chance que temos para sermos humanos de verdade.”

No dia 04 de setembro de 2021 o plano de mudar para a Europa completou quatro anos e os aprendizados ainda continuam. Aristóteles  escreveu que a natureza humana exige a vida em sociedade. Porém, eu diria que a natureza humana exige experienciar a sociedade em todos os seus aspectos mais humanos.

E nós? Bem, apesar de termos encontrado o nosso lugar, posso dizer que mal começamos a nova coleção de interações humanas.

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Marcelo Bandeira é sócio-fundador da Europeltier Thermotechnology , uma empresa de gerenciamento térmico industrial. Atuou por mais de 15 anos como executivo de marketing. Atualmente procura encher cada vez mais a sua nova bagagem da vida em Lisboa, Portugal.


>> Gostou do artigo? conheça mais sobre o que compõe a nossa Identidade lendo o artigo “Nossa História, perspectiva de passado, presente e futuro”

>>> Agradecimento pela imagem: @rawpixel

Você assume sua parte da responsabilidade ou busca culpados?

Responsabilidade ou Culpa?

Assumir a responsabilidade; é mais fácil falar do que fazer.

Vamos falar de como lidar com isso.

Nós, seres humanos, viemos a este mundo equipados com genes que têm um mecanismo de defesa embutido, ou seja, uma imunidade inata. No entanto, nossas células de imunidade, chamadas de anticorpos, não culpam os constantes invasores, muito pelo contrário, elas assumem seu papel quando algo acontece e trabalham para equilibrar nossos corpos e nos proteger de doenças.

Eu admiro muito a maneira como nosso próprio corpo assume a responsabilidade por nossa má dieta ou estilo de vida, em vez de sair culpando e não fazer nada.

Transferir a responsabilidade da culpa também é um mecanismo defesa com o qual viemos equipados, mas que não deveríamos usar. Nós nos tornamos vítimas do hábito de transferir a responsabilidade sempre que nos sentimos atingidos. Tudo começa com a sensação de impotência que acaba se transformando em um comportamento narcisista, isso acontece quando não temos a consciência na nossa própria responsabilidade pelas coisas que acontecem em nossas vidas.

Por que temos o costume de transferir a responsabilidade da culpa?

Transferir a culpa é uma tentativa de transferir a responsabilidade de nossos atos para outras pessoas. É uma forma de abuso emocional e assédio mental para que o real culpado se isente de sua responsabilidade e possa ser o “mocinho da história”.

Também é muito sutil, porque às vezes não sabemos se estamos aumentando os limites do suporte acordado ou realmente culpando alguém.

Por que você os culpa, ou eles te culpam?

A princípio nos sentimos como uma vítima impotente perante alguém ou alguma situação. Usamos a culpa como uma distração, nos levando para longe da nossa própria responsabilidade, ou da nossa capacidade de buscar nossa força interior.  

Normalmente o comportamento narcisista começa com hábitos de culpar os outros. Este tipo de pessoa não admite seus erros, escorregões ou falhas, e tem um desejo de se sentir, de alguma forma, superior.

E, assim, acha uma forma de virar o jogo e culpar alguém. Existe constantemente um desejo irresistível de permanecer como a pessoa mais importante da situação.

Enquanto você está no meio de uma discussão, se você se encontrar tentando provar que a outra pessoa está errada em vez de encontrar uma solução, você está jogando o jogo da culpa.
Você está empenhado em garantir que seu valor seja alardeado, e ninguém identificará seu erro. Em suma, auto importância exagerada, mas baixa autoestima.

Mas por que você faz isso?

À medida que crescemos, muitos de nós somos feridos, traídos e julgados sem razões válidas. Isso nos leva a criar paredes como um mecanismo de defesa. Então é comum às vezes não admitirmos nossos erros porque tememos o que pode vir depois disso. Para nos sentirmos seguros, nossa mente ativa este mecanismo de defesa que é a transferência de culpa.

Além disso, quando você está continuamente exposto a um ambiente narcisista, você pode ser contagiado por estes hábitos e constantemente copiá-los. Se você se sente assim, é pela dor que lhe foi causada por este ambiente.

Mas você acha que culpar os outros vai ajudá-lo a superar suas dificuldades?

Enquanto você culpar os outros por cada adversidade da sua vida, você nunca desenvolverá o poder da autoconfiança. Mesmo que você saiba que uma outra pessoa também fez algo errado, a sua parcela de responsabilidade você ainda pode assumir. Quando você aceitar e assumir a sua responsabilidade, você não mais irá em busca das falhas dos outros.

Como lidar com a transferência da responsabilidade de culpa?

Bem, há dois lugares onde muitas vezes acontecem discussões como estas: nos relacionamentos profissionais e nos pessoais.

Quando você culpa seus colegas de trabalho, isso impede seu crescimento em sua carreira e seu desenvolvimento pessoal. Já nos relacionamentos pessoais, transferir a responsabilidade da culpa pode deixar cicatrizes profundas e dolorosas, porque isso pode impactar a tranquilidade de uma família inteira. Pode causar danos muito mais profundos do que você imagina.

a) Nos relacionamentos profissionais

Imagine que você é um gerente de produto em uma empresa famosa internacional. Seu CEO lhe deu um ano de cronograma para lançar um aplicativo como o Tik-Tok, com objetivo de expandir para o mercado internacional de entretenimento.

Você projetou, desenvolveu e está pronto para lançá-lo. Infelizmente, sua equipe técnica não conseguiu fazer alguns testes e o aplicativo ficou fora do ar bem no dia do lançamento. Houve um enorme prejuízo para sua empresa por causa dessa surpresa desagradável. Seu chefe pede uma reunião com toda a sua equipe.

O que você diz a ele?

“Eu não fiz nada de errado. Foram eles, foi um erro da equipe de tecnologia.”

Se você alegar que foi a culpa da equipe técnica, você perde a oportunidade de se tornar uma pessoa confiante e acalmar a ira do seu chefe. O ideal é você aceitar que você falhou em verificar novamente todas as etapas do processo antes do dia do lançamento, se você o tivesse feito teria tempo hábil para tomar providencias necessárias e evitar pelo menos parte do prejuízo.

Quando culpamos nossos colegas por tudo, perdemos a chance de crescer em nossas carreiras, de crescermos como pessoas.

Aprender a lidar com conflitos no trabalho buscando uma solução em vez de “jogar pessoas no fogo” irá moldá-lo em um profissional de ponta. Assumir a responsabilidade também lhe dá uma perspectiva de liderança.

Então, para lidar com conflitos no trabalho sem se tornar a vítima ou fazer outras vítimas, você deve seguir algumas regras básicas que vou descrever abaixo:

1. Coloque os objetivos dos projetos como prioridade máxima e faça a revisão das tarefas necessárias constantemente.

2. Trabalhe com foco no seu crescimento pessoal, isso irá fazer sua equipe crescer e, consequentemente, a sua empresa.

3. Aceite apenas os seus defeitos, não há necessidade de fazer o papel de Madre Teresa. Se algo errado ocorreu que envolva outros departamentos, assuma o erro que lhe compete, sem culpar colegas de trabalho.

4. Não aponte os erros de seus companheiros de equipe ou colegas. Em vez disso, dê-lhes um feedback construtivo. Se você tem que criticar algo, comece com uma observação positiva.

5. Fique longe de pessoas dramáticas. Quando você está com raiva, triste ou emocionalmente vulnerável, pense duas vezes com quem irá compartilhar seus sentimentos e observações. Cuidado com os mal-intencionados.

6. Procure não abrir muito da sua vida pessoal no ambiente de trabalho, quando o faz, dá liberdade para que as pessoas comentem a respeito posteriormente. Praticamente você está se voluntariando para se tornar uma vítima no futuro. Não importa o quão ruim ou boa seja sua vida pessoal, mantenha-a privada.

b) Nos relacionamentos pessoais

Casamento e conflito é como massa com molho, sempre estão juntos. As argumentações fazem o casal crescer em seu relacionamento, mas quando feitas da maneira correta. A maioria de nós culpa nossos cônjuges por todos os infortúnios.

Se nossos filhos estão tendo acessos de raiva, a culpa é sempre do nosso cônjuge. Se não tivemos um bom dia, a culpa também é dele(a). Todas essas transferências de responsabilidades são tóxicas. Além disso, quando você atribui a responsabilidade da sua felicidade à outra pessoa, você acaba escravizando o/a cônjuge.

Eu entendo que para o casamento dar certo, requer que as duas pessoas trabalhem para consertar suas falhas, mas para este tipo de postura começar a funcionar, basta uma delas querer, e esta pessoa pode ser você.

Para se manter feliz no casamento, você precisa praticar algumas coisas que vou descrever abaixo, principalmente tendo em mente que para argumentar é necessário haver o respeito mútuo.

1. Aceite seus próprios erros. Se você é culpado de algo, não tente encobrir seu erro tentando usar o comportamento do seu cônjuge como um dos motivos pelo seu erro. O comportamento do seu cônjuge não deve lhe induzir a fazer algo negativo. Por exemplo, se seu parceiro(a) está te traindo, ou te evitando, não use isso como uma validação para seus próprios erros.  

2. Assuma a responsabilidade por si mesmo. Não aceite os erros dele(a) como seus, mas também não negue os seus próprios.  Encontre maneiras de assumir a responsabilidade por seus desejos, seus erros, sua vida e suas ações. Comece por você, canalizando suas emoções em uma direção positiva.

3. Não traga questões irrelevantes. Quando estiver discutindo ou brigando, evite se referir ao que fizeram no verão passado. Discuta o que é necessário para o conflito atual. O passado já passou e não pode ser alterado, mas o que está sendo argumentado neste momento é algo que pode ser alterado. Foco na resolução do presente, não do passado.

4. Corrija as suas justificativas de seus erros. Muitas vezes quando transferimos a responsabilidade de nossos erros, alegamos que nossos cônjuges erraram por problemas comportamentais ou de personalidade. Já quando nós erramos, as justificativas são externas, com fatores fora do nosso controle.

5. Preste atenção nas suas próprias afirmações. Muitos psicanalistas dizem que usamos esse mecanismo de defesa quando não percebemos nossas próprias feridas internas, mas isso pode causar feridas dolorosas nas pessoas que mais amamos. Quando não percebemos nossas próprias vulnerabilidades, desencadeamos esse mecanismo de defesa, transferindo constantemente a culpa para os outros, protegendo com paredes elevadas nossos segredos mais valiosos. Em vez disso, observe seus sentimentos, aceite o que aconteceu e assuma a responsabilidade de ir em busca da cura. Não desvie seus sentimentos e emoções.

Conclusão

A auto-observação e autodisciplina estão no centro de todo o sucesso pessoal e profissional; você não pode conquistar o mundo se você não ganhar a batalha diária contra sua própria mente. Então, para ser bem-sucedido(a), você deve começar pela busca de seu empoderamento.

Aceitar que nossas falhas requerem que nos conheçamos melhor. Pequenos hábitos como a meditação e revisão diária do nosso dia, podem mudar completamente nossa vida, mas requerem dedicação. Leva tempo para implantarmos novos hábitos em nossas vidas.  Além disso, é normal errar. O importante é ter certeza de que você está aprendendo com seus erros.

Confie que você pode enfrentar seus medos e deixar de ser mais uma vítima deste jogo da troca de responsabilidade.

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Betina é empreendedora, Executive e Life Coach, mãe e especialista em marketing e CRM. Formada em gestão hoteleira, com MBA pela Rotman School no Canadá, e três certificações diferentes em coaching.

Sua missão é ajudar os indivíduos a organizarem suas vidas e trazer presença, entusiasmo e equilíbrio às suas atividades diárias.

Contatos da Betina: www.wity.tech e whatsapp +1 (970) 567-8483

> Aprofunde o tema no Podcast (em inglês) chamado “Why we blame others and how to stop this cycle”, com uma convidada da área de saúde, Christy Thiel, que você pode encontrar neste link https://open.spotify.com/episode/1RC6X2bJijiZrprFq5diGg

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>>> Agradecimento pela imagem: way home studio✨

Apanhador de mexericas

Hyung Sung, o apanhador de mexericas em Santiago de Compostela

“Tenho para minha vida

A busca como medida

O encontro como chegada

E como ponto de partida”

(música Ponto de Partida de Sérgio Ricardo, 1932-2020)

Sabe aquelas coisas que você nunca acreditou que um dia poderia fazer, sem ao menos analisar as possibilidades? Conhecia várias pessoas que já tinham feito, e os relatos eram altamente estimulantes, mas eu nunca me imaginei fazendo o Caminho de Santiago de Compostela, e não me pergunte o porquê.

Tinha decidido deixar o mundo corporativo, os custos já não estavam compensando. Vinha me preparando psicologicamente e financeiramente e quando chegou o momento, já estava preparado.

Desde que me conheço por gente, sempre trabalhei com metas. Fora do mundo corporativo, tinha decidido me formar em Psicanálise, me dedicar a leituras e aperfeiçoar meu jogo de golfe.

Um novo caminho

De repente deu uma coceira e me veio a seguinte provocação: porque não comemorar os meus 60 anos em Santiago de Compostela? De início me pareceu fantasia, uma ilusão. Eu mesmo não dei muito crédito e não comentei com ninguém. Mas os meses foram passando e a ideia insistia em permanecer acesa. Timidamente compartilhei a ideia com minha esposa que me disse: por que não? E como ela é mais esperta que eu, completou: você vai caminhando e eu vou de avião e nos encontramos em Santiago de Compostela. Feito! A primeira questão estava resolvida, agora era focar na preparação.

Teria de caminhar 805 km, saindo de Saint Jean Pied de Port (França), cruzar os Pirineus e atravessar praticamente toda Espanha, justo eu que nunca fui atleta, mas, lembra que falei que sempre trabalhei com metas? Me organizei e comecei os treinos envolvendo caminhadas e um pouco de musculação. Comecei a frequentar ACACS (Associação dos Amigos e Confrades do Caminho de Santiago de Compostela) recebendo dicas e recomendações sobre o Caminho.

Grandes lições

De tão focado nas metas, nunca aprendi a apreciar o caminho, só interessava a chegada.

Preocupação:

Sabe aquela história de que a beleza está na viagem e não no destino? Pois é, eu nunca pratiquei esta filosofia e de repente vi que tinha que caminhar, em média 23 km por dia durante 35 dias. Percebi que só o objetivo da chegada não seria suficiente para manter a motivação por 35 dias. Fiquei preocupado, estava na hora de encontrar outra motivação.

Mexerica:

É aqui que entra a história das mexericas. Numa das caminhadas de treino com ACACS, Elena, minha esposa, me perguntou se ali havia pé de mexerica. Olhei incrédulo, estávamos quase chegando ao destino, estava cansado e no meio de um matagal. Perguntei porquê e ela me disse que havia encontrado algumas pelo chão.

Dias depois, pensando no ocorrido, consegui simbolizar que isto era a representação de como deveria apreciar a jornada. Troquei a meta de 23 km por dia por encontrar 3 “mexericas” por dia, prestando atenção no caminho. Mas como mudanças de hábitos não são simples, me obriguei a tirar fotos das “mexericas”. Foi uma excelente troca, estava aprendendo a apreciar a jornada!

Fazendo escolhas:

No ambiente corporativo, marcado pela alta competitividade, não há como você ser senhor das suas escolhas. Elas são frutos de muitas negociações e nem sempre são as decisões mais lógicas e/ou racionais. Muitas variáveis não objetivas entram no processo e confesso que isto me frustrava bastante. No Caminho, resgatei a oportunidade de ser o senhor das minhas escolhas e responsável pelas consequências, sem ninguém a quem terceirizar os meus erros.

A liberdade de poder fazer as suas escolhas, determinar o seu ritmo e ter feedback constante e direto, não tem preço!

Resiliência:

Numa jornada longa desta magnitude você não tem controle dos eventos, principalmente de como seu corpo vai reagir a este esforço. O mais importante é manter a mente flexível e praticar mais do que nunca a tal da resiliência. Falando assim é óbvio, difícil é a prática sem perder o foco, como quando cheguei em Zuribe. Após uma caminhada extenuante, não havia um beliche disponível na cidade, isto porque o maior albergue estava fechado em reforma, e a cama disponível mais próxima estava a 16 km. Fazer o quê? Mandar tudo para aquele lugar não iria resolver meu problema. Aí que a gente vê que a teoria é bem mais fácil que a prática.

Grama do vizinho:

Soren Kierkegaard, filósofo dinamarquês, disse que “A raiz da infelicidade humana está na comparação”. No começo da jornada, quando olhava os mais jovens de porte atlético, me sentia … bom você pode imaginar. Temos tendência a acreditar que a vida é feita de somatória de corrida de 100 metros rasos, mas não é assim. Ela é uma maratona, e ao longo do caminho pude perceber que a grama do vizinho parecia mais verde, até você descobrir que ela é grama artificial. E o mais importante é que não estamos numa competição de velocidade, basta chegar no seu destino que você já é vencedor!

Lição inesperada:

Por vários dias caminhei com um senhor alemão. Educado, atencioso, mas ele tinha uma mania que começou a me incomodar. Reclamava muito, mas quase sempre ele estava certo. A questão era que ele ficava ruminando a queixa, não conseguia deixar para trás. Talvez me incomodasse tanto porque, inconscientemente, me identificava com ele. Cheguei à conclusão de que estar certo não dava direito, a ninguém, de ser chato. Era chegada a hora de mudar, não queria virar um velho chato.

Falando assim, parece que tudo foram flores ao longo do Caminho. Fiz amizade com pessoas muito legais e o espírito de solidariedade genuína pairava pelo ar. Mas também havia pessoas que não conseguiam se conectar com o espírito do Caminho e não se davam a oportunidade de experimentar uma nova dimensão da vida. Seguiam intolerantes, presos aos seus pré-conceitos. Decidi pôr em prática a frase de Shakespeare: “Guardar ressentimento é como tomar veneno e esperar que outro morra”.

Passei a escolher que experiência queria guardar e me afastar daquilo e daqueles que não me faziam bem. Foi libertador!

Pensador solitário:

Quando estava preparando a mochila, coloquei algumas folhas em branco e uma caneta. Tinha dúvida se a quantidade de folhas seria suficiente. Sabe aquela imagem do “intelectual” sozinho, isolado refletindo e procurando as respostas para as grandes questões da vida? Afinal eu teria tempo, não teria distrações, era o cenário ideal. Descobri que isto era uma grande fantasia. Não é à toa que os gregos clássicos buscavam as respostas através do debate.

É se abrindo ao contrário, ao diferente, que aprimoramos o nosso conhecimento e chegamos mais perto das respostas.

Falar com um igual é que nem falar diante do espelho, só consolidamos o que já sabemos. Não agregamos nada de novo. Em tempo, usei somente uma folha.

Aprendizado:

A coisa que mais me surpreendeu ao longo do Caminho, foi uma conversa com Ângelo, dono de uma barraca de fruta e bebidas. Parei para descansar e ficamos conversando, foi quando ele me disse: “Você gosta de brincar, sabe, de levar a vida”. Nunca ninguém havia me dito isto e muito menos eu achava que eu sabia levar a vida. Eu era a personificação do dito: “missão dada é missão cumprida”. De onde ele tirou esta ideia?

Depois de tudo, a única certeza que tenho é que as coisas podem ser bem mais simples. Acho que eu já estava vivendo assim, e foi isto que ele percebeu em mim e, por isso, falou.

Buen Camino

No dia 3 de junho de 2019, debaixo de uma fina chuva, cheguei a Santiago de Compostela. Um pouco cansado, mas cheio de energia e disposição para encarar a vida de um outro jeito: mais leve, mais simples e cônscio de que estamos de passagem nesta grande oportunidade que é a vida.

“O encontro como ponto de chegada e como ponto de partida”. Este, para mim, é o verdadeiro espírito do Caminho de Santiago de Compostela!

Buen Camino!

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Hyung é brasileiro naturalizado, com 29 anos de atuação no mercado segurador, dos quais 25 dedicados a processos de reestruturação e turn around. Foi CEO da Generali Seguros e Zurich Seguros Gerais e atuou como VP da Mitsui Sumitomo Seguros e Mapfre do Brasil.

Economista com Mestrado e Graduação pela FEA/USP, e recentemente concluiu a formação em Psicanálise. Atualmente atua como psicanalista e orientador para desenvolvimento de carreira.

>> Gostou do texto e quer aprofundar no autoconhecimento? Recomendamos os artigos:

“Nossa história, perspectiva de passado, presente e futuro”, de Aline Craveiro

“Autenticidade como caminho do bem-estar”, de Elaine Araújo

>>> Imagem: cedida pelo próprio Hyung ✨

Saúde Mental e o Setembro Amarelo

“Morrer é uma coisa que se deve deixar sempre pra depois.”        Millôr Fernandes (1923-2012) 

Setembro, o mês da prevenção ao suicídio, representado pela cor amarela, cor essa que vem representando a saúde mental. Ao decorrer do texto lhe convido a conhecer um pouco do tema e algumas dicas para a busca do bem-estar psicológico.

A saúde mental está relacionada em como enfrentamos o mundo, harmonizamos os nossos desejos, emoções, ideias e interação com a sociedade. Em sua definição seria um estado de bem-estar. 

Nestes dois últimos anos, o tema ficou em alta devido à pandemia que enfrentamos, onde tivemos que criar mecanismos e novas maneiras de viver e interagir. Houve relatos de agravamento de pessoas que já sofriam de algum tipo de transtorno psicológico, assim como a ansiedade e depressão. Diante aos enfrentamentos trazidos, houve uma grande busca sobre o autoconhecimento e maneiras de promover a saúde, tanto no aspecto social, quanto individual.

 O Setembro Amarelo é uma campanha com o intuito de prevenir o suicídio. Neste mês há diversos projetos pelo Brasil inteiro, promovendo ações, rodas culturais e redes de apoio para a população.

Acredita-se que a divulgação de notícias sobre casos de tentativas de suicídio pode encorajar pessoas pelas quais passam por situações delicadas, se tornando uma grande questão da saúde pública, pois se faz necessário capacitar equipes  de atenção primária em saúde mental para identificar, abordar e cuidar para que a pessoa tenha seu espaço na comunidade,  sendo este uns dos principais pontos da prevenção. Estar cercada de apoio.

Ações em prol da saúde mental:

Sabendo que, para estarmos aptos a mantermos uma vida prazerosa e divertida, precisamos cuidar de nossa mente e corpo, seguem algumas dicas para a promoção de sua saúde psíquica:

  • Cuide da alimentação.
    A comida tem uma relação direta não somente com o nosso corpo, mas também com a nossa mente.
  • Priorize o sono.
    Se faz necessário ter uma boa noite de sono, pois quando isso não acontece pode agravar transtornos, tanto emocionais quanto mentais.
  • Tenha momentos dedicados às pessoas queridas.
    Esteja perto de pessoas que lhe provém o bem e boas sensações.
  • Reserve um tempo para o lazer.
    Sabemos da importância do trabalho, mas tire um tempo para praticar algum hobby, algo que te traga outras fontes de felicidade.
  • Desenvolva sua espiritualidade
    A espiritualidade independe de crença ou religião. Está relacionada à forma como olhamos o mundo.
  • Conheça a si mesmo.
    Há infinitas maneiras de se conhecer, pratique atividade que goste, como teatro, arte, exercícios físicos. Procure uma terapia que se identifique.
  • Permita-se sentir.
    É importante aceitar todos os nossos sentimentos. Nossa cultura impôs que não é bom sentir raiva ou tristeza, mas estes sentimentos são importantes para que possamos ficar mais fortes e valorizarmos os sentimentos de amor, alegria, realização.

Sabe-se que não há plenitude em meio ao caos. Estamos sempre enfrentando problemas sociais, culturais, econômicos e ainda vivendo com a nossa subjetividade. Sendo assim, não há receita para felicidade, mas podemos tentar buscar formas de enfrentamento diante às barreiras a nós impostas.

Que saibamos reconhecer e procurar ajuda quando se fizer necessário. 

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Rayane é graduada em psicologia com ênfase em psicanálise e é a psicóloga da friendsBee, além de atuar na clínica Libertare psi, da qual é co-fundadora. É também poeta e professora. Instagram: @libertarepsi

>> Leia também a emocionante e inspiradora história de superação da depressão em: No fundo do poço pode haver um trampolim

>>> Obrigada pela imagem, @edu-lauton ✨

No fundo do poço pode haver um trampolim …

No fundo do poço pode haver um trampolim ...

Quando a Andréa me convidou para escrever no blog da friendsBee sobre meu colapso emocional, eu fiquei um pouco reticente… não porque apresento alguma dificuldade em abordar o tema, mas porque sempre o abordei de forma oral e informal… aqui está sendo a primeira vez que o farei de forma escrita.

É um assunto tão denso, profundo, com repercussões que ainda venho digerindo desde então… eu me sinto tentando colocar uma baleia em uma lata de sardinha.

Contudo, aceitei o desafio e agora vou encará-lo: tentarei escrever de forma mais narrativa, tentando evitar eventuais juízos de valores. Gosto muito do que li de Immanuel Kant, no seu livro “Crítica da Razão Pura”. Ele nos remete à ideia de que não temos acesso à realidade objetiva (a qual ele cunhou o termo “coisa em si”), mas sim aos “fenômenos”, que são as experiências da mente originadas a partir da realidade objetiva. Assim, reconheço que o que ocorreu comigo vem sofrendo inúmeras transformações ao longo do tempo.

Eu estava na altura dos meus 40 e poucos anos, executivo de uma empresa se internacionalizando e tinha essa expansão internacional como uma das minhas responsabilidades. Trabalhava em uma startup com menos de uma década de existência, mas com grandes conquistas: mais de 300 colaboradores, com serviços lançados com as marcas de todas as Telcos brasileiras, algumas cadeias varejistas e outras Telcos pela Argentina, Chile e México. Os fundadores eram (e são até hoje), além de grandes amigos, pessoas inspiradoras, as quais admiro muito pela visão de mundo e capacidade produtiva.

Algo não encaixa…

Poderia me considerar uma pessoa bem-sucedida, com muitos amigos, uma vida social bem agitada, mas sentia que havia alguma coisa que não se encaixava. Entretanto, por mais que olhasse em volta, só conseguia enxergar motivos para me sentir grato. No entanto, tinha uma dificuldade imensa de acordar às segundas-feiras. Por incontáveis vezes, eu entrava no meu quarto na sexta-feira à noite e só saía dele na segunda ou na terça, com muita força de vontade.

Aos poucos, fui organizando a minha vida para trabalhar mais de casa, aproveitando-me do bom relacionamento que conquistara na empresa. Comecei utilizando esse artifício durante as manhãs de segunda-feira, que logo passaram para o dia todo. Algumas semanas eu me atrevia a abusar dessa confiança e acabava ficando em casa também na terça-feira.

Até que, em uma determinada sexta-feira, entrei no meu quarto, desliguei meu celular e não consegui me reconectar ao mundo por mais de 2 semanas. Esse isolamento só foi interrompido pela minha irmã, que saiu de Ribeirão Preto e viajou até o meu apartamento de São Paulo, ameaçando arrombar a porta se eu não atendesse. Nesse período de isolamento, eu fiz todas as elucubrações que me pareceram possíveis e “mais adequadas” para finalizar minha jornada na dimensão terrena.

A importância da família

Minha irmã me resgatou em São Paulo e me levou para Ribeirão Preto, diretamente para o consultório de um psiquiatra que já aguardava minha chegada para encaixe na agenda. Foi uma consulta rápida, com poucas perguntas, que resultou na prescrição de um antidepressivo e um atestado para apresentação na empresa que trabalhava (esse último, a meu pedido). O atestado foi bem objetivo e lacônico: eu me lembro apenas que recomendava o meu afastamento por 45 dias, devido entre outras razões à apresentação de “tendências suicidas”. Eu me encontrava tão devastado à ocasião, que nem me importei muito em compartilhar esse tipo de atestado com o RH e meus gestores na empresa.

Estávamos em agosto de 2016 e a empresa me manteve em seu quadro de funcionários até dezembro daquele ano, quando, por minha própria iniciativa, achei por bem pedir meu afastamento definitivo por entender que aquela vida que eu vivia não caberia mais no meu futuro. A decisão me pareceu correta em termos éticos, mas a falta de perspectiva do que faria da vida dali em diante me jogou novamente para dentro do meu quarto (desta vez, em Ribeirão Preto).

A importância dos amigos

Ao final de janeiro de 2017, recebi a visita de dois amigos de infância. Eles me fizeram tomar um banho e me levaram para dar uma caminhada no parque. Durante a conversa, um deles me perguntou se eu aceitaria conversar com o psicanalista dele. Eu me dispus a encontrá-lo, mas adiantei que sem renda, não poderia me comprometer com qualquer tratamento. Ele só me disse: “um passo de cada vez. Primeiro, vamos ver se você gosta dele e ele de você.”

Marcamos a consulta, fui conhecê-lo e conversamos por quase duas horas. A conversa foi excelente, mas, com a falta de visibilidade de como poderia dar continuidade ao processo, não me permiti muita empolgação. Passaram-se algumas semanas e recebi a visita deste amigo novamente, que me deu a notícia mais emocionante da minha vida até então: ele havia juntado 15 amigos em comum que se cotizaram para me dar de presente 1 ano de psicanálise.

O trampolim

A partir dali iniciei uma profunda caminhada ao autoconhecimento, o qual penso ser uma base sólida onde eu posso construir melhores métodos para lidar com meus diversos sentimentos, de forma a privilegiar a gratificante sensação de “estar de bem com a vida”.

Este texto sintetiza uma longa noite escura: o primeiro contato com meu mundo interno. Esse episódio, por mais duro que foi vivenciá-lo, colocou-me de forma despida, permeável a novos vértices e aprendizados profundamente significativos. É muito comum criarmos personagens para nós mesmos e acreditarmos que somos esses personagens, distanciando-nos de nossas essências, até que não seja mais possível identificar quem somos, ou melhor ainda, quem podemos ser. No meu caso, por exemplo,

noto que minhas memórias anteriores ao colapso emocional são muito turvas … como um sonho esfumaçado … é como se eu estivesse vivendo a vida de outra pessoa … um espectro de mim mesmo …

Posso afirmar que nutro profunda gratidão por esse episódio. Não consigo me imaginar em uma posição melhor do que estou hoje, se não tivesse vivenciado tudo isso. Foi necessário para desconstruir vários dos meus dogmas e abrir espaço para uma caminhada mais frutífera e construtiva de vida.

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André é sócio fundador de uma produtora de cinema, uma empresa de consultoria e trabalha como executivo de uma grande empresa de tecnologia.

Acima de tudo, um entusiasta do autoconhecimento enquanto jornada reveladora para nortear melhor as nossas escolhas, decisões e renúncias do dia a dia.

>> Gostou? continue a sua reflexão com o artigo “Quantas vidas você tem”, da fundadora da friendsBee, Andréa Destri

>>> Agradecimento pela imagem: Benjamin Sow ✨

A Relevância das Práticas Contemplativas para a Saúde Emocional

Atividades Contemplativas

Em certos dias, é a ansiedade e dor de cabeça, em outros, noites entrecortadas pelos pensamentos repetitivos e questões não resolvidas. Ombros ‘eternamente’ enrijecidos, aquele incômodo na cervical. Ou é o estômago que não anda muito bem? Seguimos esquecendo ou adiando pendências e compromissos mais uma vez, empilhando ou embolando mesmo os tópicos importantes e urgentes. Vamos fazendo o que dá, até as próximas férias ou algum alívio no fim de semana.  

Frustração, medo, reações exageradas ou anestesiadas. São muitas as faces emocionais e respostas físicas em decorrência de uma normalidade viciante e viciada, muito convincente em meio a métodos de gestão de tempo e produtividade. Entre as horas que temos e as que precisamos, nossas armadilhas envolvem aspectos psicológicos e estruturais a respeito da ocupação.  

Precisamos de Espaço

Frequentemente converso sobre os estados regulares de tensão e alerta que vivemos. Seja nos atendimentos que faço ou com pessoas que conheço. Por vezes, entram também na pauta o cansaço e a culpa. “Não há tempo a perder” costuma ser o mantra, mas o que a gente precisa mesmo é de Espaço.

“Eu imagino um dia em que os exercícios mentais possam fazer parte de nossas vidas diárias tanto quanto os exercícios físicos e a higiene pessoal” – Dr. Richard Davidson, neurocientista, fundador e diretor do Center for Healthy Minds

De uma perspectiva de cuidado com o bem-estar pessoal, esse Espaço que menciono é a necessidade de incluir ‘respiros mentais’ ao cotidiano, através de atividades que restabelecem o equilíbrio emocional e físico, assim como reconexões com nosso senso de Propósito e autonomia, fortalecendo laços de qualidade. Cito especialmente as Práticas Contemplativas como fonte inesgotável de desenvolvimento pessoal e amplitude de visão, frente aos cenários que se apresentam, de maneira mais sistêmica.

As Práticas Contemplativas

O termo contemplativo, tido originariamente como o ato da apreciação, influencia a ciência e ganha força em diversas frentes de pesquisa. A denominada Ciência Contemplativa é a ponte entre o estudo empírico da ciência e o estudo subjetivo e experimental da consciência. Permite um conhecimento mais profundo dos fenômenos mentais e neutraliza os efeitos dos desequilíbrios conativos (intenção e desejo), atencionais, cognitivos e afetivos.

Neste portfolio estão atividades milenares como meditação, pausas de silêncio, yoga, tai chi chuan, artes manuais, canto e música. Diálogos restaurativos ou escuta profunda, contação de histórias, journaling (registros como um diário), entre outros.
Cultivam um foco em primeira pessoa; às vezes com a experiência direta como objeto, enquanto outras se concentram em ideias ou situações complexas. Incorporadas ao cotidiano, elas agem como um lembrete para se conectar ao que achamos mais significativo.

As práticas contemplativas desenvolvem capacidades para concentração e acalmam a mente. Este estado de centralidade pode ajudar a desenvolver nossa habilidade em autorregulação, maior empatia e comunicação assertiva, reduzindo o estresse e aumentando a criatividade. Podendo ser implementadas através de orientação profissional ou de forma autodirigida.

É para todo mundo!

As práticas contemplativas são aplicáveis à  diversas áreas e diferentes perfis.

Fui me apropriando do valor dessa integração da vida ‘setorizada’ em 2012, quando retornei às práticas budistas e aprofundei em conhecimentos relacionados. Em paralelo, a trajetória com grupos colaborativos amadurecia e, ao lidar com os integrantes, surgiam inúmeras questões humanas mais amplas do que o processo criativo. Até culminar na formação como professora do Cultivating Emotional Balance e ingressar na psicologia, foram (e ainda são) muitas investigações, experimentações e estudos, para além dos modelos prontos.

O melhor de tudo é poder escolher e adaptar as práticas de modo que possam incorporar-se a vida de cada pessoa. Com o tempo, percebemos a necessidade e possibilidades de melhorias em um ou mais assuntos do dia a dia. Mais insights podem surgir e melhores respostas frente aos desafios.

Profissionais de diferentes áreas relatam maior autoconfiança, motivação, equilíbrio emocional e concentração, ao decidirem por uma ou mais práticas. Há inúmeras meditações que funcionam como porta de entrada e são a base essencial para as atividades. O journaling, por exemplo, foi foco de estudos* que comprovaram que dispensar 20 minutos do dia para relatar seus pensamentos e sentimentos podem melhorar a atitude, resiliência emocional, saúde física. 

Ao decidir realizá-las, é premissa ter em mente que a regularidade, mesmo oscilante inicialmente, é fator fundamental para adquirir o hábito. Assim como não construir expectativas sobre resultados e prazos, ou comparar-se com outras pessoas.

* Pesquisa conduzida por Joshua M. Smyth na Universidade de New York

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Cleyde Engelke é bacharel em Design com especialização em Design Thinking pelo IBMEC. Instrutora de Gestão Emocional pelo Albert Einstein e Santa Barbara Institute, com formação em mediação de conflitos e práticas de diálogo. Mentora de processos criativos individuais e em grupo.

>> Gostou do artigo e quer conhecer mais sobre as emoções? recomentamos Quando as emoções tomam conta do nosso ser

>>> Agradecimento pela imagem: Mohamed Hassan ✨